Artigo publicado orginalmente no jornal Folha de Vitória
Faz uns 10 anos que a piada falando de “ecochatos” perdeu a graça. O conceito de sustentabilidade ganhou força e hoje não é mais percebido apenas como a preocupação com alimentos orgânicos e o uso adequado da água.
A figura do “ecochato”, que patrulhava a vida alheia em busca de infrações ambientais a serem recriminadas, definitivamente foi substituída pelo executivo vanguardista que considera em sua estratégia de negócios como as mudanças climáticas afetam o acesso ao capital e de que forma isso aumenta sua exposição ao risco.
O setor financeiro, por exemplo, pode ser afetado pelas mudanças climáticas direta e indiretamente. Impactos relacionados a falhas e interrupções nas operações de companhias financeiras provocadas por eventos climáticos extremos, a exemplo de furacões, ciclones, tempestades, ondas de calor e secas severas, e alterações graduais, como a elevação no nível do mar, obrigam bancos e seguradoras a reformularem seus negócios e incorporarem a variável da mudança do clima definitivamente nas suas operações.
Afinal, uma precificação ineficiente dos riscos climáticos nos negócios pode gerar perdas substanciais a bancos, seguradoras e detentores e gestores de ativos. Pode ameaçar a sobrevivência de empresas produtivas e erodir a rentabilidade de investimentos de pessoas físicas nas situações mais extremas.
Hoje, uma empresa com os pés no futuro, se pauta pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 como um plano de ação global. O desafio que temos pela frente, para nossa própria sobrevivência, é ouvir o que fala a ciência e o que foi estabelecido nos ODS e no Acordo de Paris, no qual 195 países assinaram compromisso de reduzir suas emissões. As diretrizes do Acordo são claras, em meados deste século temos que zerar a emissões líquidas de CO2, o que significa reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis no nosso modo de produzir e consumir.
É por isso que já vai longe o tempo em que o especialista de sustentabilidade de uma empresa ficava restrito ao seu departamento. Está cada vez mais claro para as empresas que a sustentabilidade tem relação com o desempenho da empresa no presente, e com sua sobrevivência no futuro.
É uma empresa que antes mesmo de tomar a decisão sobre o investimento, embute os riscos da escassez de recurso hídrico e de que forma pode fazer uso mais eficiente da água em seu processo de produção, o que diminui o seu custo. É uma empresa que já prevê a inexorável transição para uma economia de baixo carbono, e embute no negócio a possível precificação de carbono, e com esta nova lógica, de incorporar esta externalidade, vai se movendo para ser uma empresa cada vez mais limpa, já pensando em investir em energia renovável, e abater seus custos. É uma empresa que cria oportunidades para que prevaleça a diversidade entre seu quadro de funcionários, sabendo que a empresa que reflete em seus quadros diferentes gerações, diferentes gêneros, diferentes raças e religiões não apenas combate a desigualdade, mas torna a empresa mais competitiva.
A sustentabilidade hoje não é mais confundida com o verde. É vista de maneira sistêmica. É colorida. E tem todas as cores representadas em cada ODS. Assume diversos tons para ampliar sua efetividade.
Representando 60 das maiores empresas que atuam nos mais diversos setores no Brasil, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) está consciente de sua missão de promover entre essas empresas a troca de experiências e fazer com que os cases de sucesso de cada uma delas sirvam de exemplos e possam ser multiplicados por mais e mais empresas e cadeias setoriais. Estamos cientes de nosso papel como uma ponte para transmitir à sociedade esses conceitos e práticas, e também para levar essas experiências aos governantes, de forma a possibilitar o estabelecimento de políticas públicas que eliminem gargalos e promovam efetivamente um salto em prol de um futuro sustentável.
Falamos no termo sustentável no mais amplo sentido. Passado, presente e futuro, o conceito que já foi considerado verde é hoje colorido, e cada vez mais é incorporado como hábito coletivo, nas empresas, na sociedade, nos indivíduos, envolvendo todos os elos e todas as cadeias.
Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).