Bioeconomia é crucial para Acordo de Paris, defendem especialistas no I Biofuture Summit


Com o objetivo de estimular a criação de uma bioeconomia de baixa emissão de carbono e pensar os melhores caminhos para torná-la possível, o I Biofuture Summit ocupou os salões do Estanplaza International, em São Paulo, nos dias 24 e 25 de outubro. O evento reuniu cerca de 300 representantes de 26 países e foi marcado pela apresentação da Biofuture Platform e pelo primeiro roadshow do below50 na América do Sul.

A presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, participou da abertura do evento e destacou que a busca por soluções de baixo carbono dos setores energético e de transportes é primordial para o alcance das metas pactuadas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. “O setor empresarial tem todas as condições de liderar esse processo e pressionar o governo para garantir avanços nos marcos regulatórios e políticas nacionais, que hoje representam um gargalo para o desenvolvimento da bioeconomia”, enfatizou.

O ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, chamou a atenção para um dos grandes desafios que o mundo tem pela frente: aumentar exponencialmente a produção e o uso de bioenergia, a fim de garantir os limites acordados em Paris.

Ministro Aloysio Nunes fala na abertura do evento

“A bioeconomia moderna é capaz de mitigar gases de efeito estufa e trazer inúmeros benefícios para a sociedade. Pode dar mais valor e produtividade para a agricultura, possibilitar o aproveitamento de resíduos urbanos e rurais, garantir a segurança energética e o acesso à energia, além de ser uma fonte próspera de negócio. A bioeconomia já movimenta 22 bilhões”, justificou.

O ministro falou ainda sobre a Plataforma para o Biofuturo, cuja secretaria interina foi assumida pelo Brasil. “A plataforma será catalisadora dos esforços rumo à economia de baixo carbono”, ressaltou.

O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, apresentou a experiência do estado em estimular o uso de biocombustíveis, especialmente do etanol. “Queremos somar nosso esforço nesta necessidade global de termos uma economia de baixo carbono. A experiência da bioeconomia mostra que podemos agir na questão da energia e dos combustíveis, mas é preciso estimular de maneira mais rápida esse processo. Por isso temos dado grande apoio ao RenovaBio, programa brasileiro de estímulo aos biocombustíveis”, afirmou.

Roberto Jaguaribe, presidente da ApexBrasil, explicou que é possível combinar desenvolvimento social com aumento da capacidade de produtiva. “Um estudo da Climate Bonds Initiative mostrou que áreas em que foram implantadas usinas de cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul ganharam com a preservação do meio ambiente. Gerar renda nesses espaços faz diferença na conservação e proteção do meio ambiente, porque a pobreza tende a degradar a natureza”, pontuou. 

“A pobreza tende a degradar a natureza”, ressaltou Jaguaribe

Em depoimento exibido em vídeo, a CEO da Energia Sustentável para Todos (SEforALL), Rachel Kyte, destacou a importância do Brasil nas negociações do Acordo de Paris e lembrou que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) defendem que a melhoria da qualidade de vida das pessoas passa, necessariamente, pela garantia de energia acessível, sustentável e moderna.

O vice-diretor geral da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), Sakari Oksanen, complementou reforçando que a bioenergia é essencial para atingirmos os ODS. Paul Simons, vice-diretor executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), afirmou que o nosso país é visto como ator fundamental na construção de um mundo mais sustentável. “O Brasil apresenta diversas soluções inovadoras, seguras e acessíveis para o futuro energético global”, reconheceu.

 

Painéis destacam oportunidades e desafios

Após a abertura, foram realizados dois painéis com a finalidade de discutir os cenários climáticos e os principais desafios para o desenvolvimento da bioeconomia global. Moderado por Christian Zinglersen, chefe da Secretaria Ministerial de Energia Limpa (IEA), o debate “Cenários climáticos e a necessidade de ampliar a bioeconomia avançada” destacou a urgência de se desenvolver o mercado de bioenergia em suas diversas frentes, da produção ao consumo, respeitando as diferenças regionais.

Paolo Frankl, chefe da Divisão de Energia Renovável da IEA, ressaltou que os biocombustíveis são indispensáveis para o alcance das metas do Acordo de Paris. “Mesmo cumprindo com todas as NDC, será difícil atingir as metas acordadas na COP21. Pela frente, temos como principal desafio o aumento, em grande escala, da participação de biocombustíveis na matriz energética global até 2030”. Para ele, o caminho é expandir o desenvolvimento de tecnologias.

Bernardo Gradin, CEO da Granbio, trouxe a perspectiva da indústria para o debate. “A descarbonização oferece um amplo espectro de oportunidades de negócios, mas faltam programas e políticas que estimulem a produção e a demanda de biocombustíveis”, defendeu. O painel contou também com a participação de Sakari Oksanen.

O segundo painel – Superando os desafios atuais e estruturando as opções políticas futuras -, moderado pelo diretor geral de Desenvolvimento Sustentável, Energia e Clima do Ministério do Meio Ambiente da Itália, Francesco LaCamera, teve como principal questão debater soluções concretas para a superação das barreiras, especialmente as legislativas.

Rasmus Valanko, do WBCSD, apresenta o below50

Rasmus Valanko, diretor de Clima e Energia do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), apresentou o below50, projeto que busca criar demanda para combustíveis que, como o etanol e o biodiesel, emitam 50% menos CO2 do que os combustíveis tradicionais. Para ele, a colaboração intersetorial e entre os países é fundamental para que o mercado avance. “Dizer o que precisa ser feito não é mais suficiente, precisamos saber como fazer e o below50 traz essa perspectiva”, declarou. 

Plinio Nastari, representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), aprofundou o debate sobre o RenovaBio. “O programa propõe uma regulação baseada em dois pilares: a introdução de eficiência energética no uso e produção de bioenergia; e o reconhecimento da capacidade de mitigação de cada um dos biocombustíveis. Por meio desse estímulo, o RenovaBio trará competitividade às nossas empresas e preços mais baixos para os consumidores”, explicou.

O painel também teve contribuições do chair de Bioenergia da IEA, Kees Kwant; e do chair do Grupo de Trabalho em Biocombustíveis do Ministério de Petróleo e Gás da Índia, Ramakrishna Y.B.


O papel da indústria na bioeconomia

Durante a tarde de terça (24), os participantes da Cúpula se dividiram em três painéis paralelos, com o objetivo de esmiuçar temas relativos à bioeconomia, como a construção de políticas públicas e o desenvolvimento de biocombustíveis e bioprodutos de baixo carbono.

Ana Szklo moderou o painel sobre o desenvolvimento de biocombustíveis na indústria

O painel “Desenvolvimento Industrial na Bioeconomia: combustíveis de baixo carbono” foi moderado pela gerente sênior de Assessoria Técnica e Projetos do CEBDS, Ana Szklo, e formalizou o roadshow do below50. “O setor de transportes é central na redução das emissões de gases de efeito estufa e os biocombustíveis também podem ser disruptivos. Hoje, observamos que há uma desconexão entre onde deveríamos estar e onde estamos”, pontuou. 

Pedro Scorza, diretor de Biocombustíveis de Aviação da GOL, explicou que o setor de aviação é muito sensível a mudanças. “Antes de falarmos em disseminar os biocombustíveis em grande escala, precisamos de políticas públicas e marcos regulatórios que abram caminho para a consolidação do mercado”, reforçou.

João Alberto Abreu, vice-presidente executivo da Raízen, concordou parcialmente. “Precisamos de marcos regulatórios para fomentar a indústria de bioenergia, mas o setor empresarial deve ser mais construtivo nesse debate. Investimentos em inovação e tecnologias, disruptivas ou não, são o melhor caminho”, sustentou.

O painel contou com a participação de Rebecca Boudreaux, presidente da Oberon Fuels; e Daniel Cardinalli, chefe de Desenvolvimento de Negócios na América Latina da Novozymes.

O segundo debate sobre o desenvolvimento da bioeconomia na indústria contou com a participação de parceiros do below50 – hub América do Sul. Bernardo Silva, presidente da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI), abordou as oportunidades que o Brasil têm pela frente com o programa do governo federal para alavancar os biocombustíveis. “O RenovaBio é, sobretudo, uma política de inovação”, reforçou.

Também participaram da discussão Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica); Donizete Torkaski, diretor da União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio); Gabriel Kropsch, Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás); e moderação de Gerard Ostheimer, diretor do below50/SEforALL.

O I Biofuture Summit foi organizado pelo Ministério de Relações Exteriores em parceria com o CEBDS e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), e contou com o apoio da ABBI; ABiogás; Unica; Ubrabio; Confederação Nacional da Indústria (CNI); Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia de Bioetanol (CTBE); e Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Mais informações sobre os painelistas e discussões apresentadas podem ser encontradas em www.biofuturesummit.com.