Mesmo que os 195 países signatários do Acordo de Paris cumpram as suas metas de redução de carbono, assumidas em 2016 durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), a temperatura média do planeta aumentaria para 2,8 graus centígrados em relação aos níveis pré-industriais. O alerta foi feito nesta sexta-feira (19) pelo professor Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP) e membro da equipe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), durante o Diálogo de Talanoa, organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) nesta sexta (19), e que reuniu mais de 350 pessoas no Museu do Amanhã no Rio.
O dado apresentado por Artaxo equivale quase o dobro da meta de 1,5 grau defendida pelo IPCC em relatório divulgado no último dia 8. Em sua fala, ele fez o alerta e um apelo por medidas urgentes e rupturas imediatas para reverter os efeitos de um aumento de temperatura global. Os cientistas apontam que maior do 1,5 graus, na média, a temperatura traria efeitos devastadores no Brasil, com aumento em torno de 6 graus na região da Amazônia e uma queda de precipitação de chuvas na região Nordeste da ordem de 90% até o final do século.
“No caso do Brasil, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já fez análises de aumento de temperatura. Toda a região Nordeste do Brasil teve um aumento de 2,5 graus e alteração na taxa de chuva, com uma queda de 60% de precipitações, o que é algo bem significativo”, disse Paulo Artaxo, afirmando que o caminho mais viável para a redução dos impactos do aumento da temperatura global é a redução total das emissões até 2040. Para isso, ele defendeu um envolvimento maior de governos e de empresas.
“É do entendimento do setor privado que podemos ir além. Podemos promover um avanço mais significativo, com o desmatamento líquido zero nos biomas brasileiros, entre outras ações. Precisaremos trabalhar junto com as empresas para que elas incluam em seu planejamento uma análise de risco, e possam contribuir efetivamente para barrar esse avanço das mudanças climáticas. Isso resulta no aumento da resiliência no mercado de trabalho”, disse Ana Carolina Szklo, diretora de Desenvolvimento Institucional do CEBDS. “Para promovermos essa transição é imprescindível não deixarmos ninguém para trás, com empregos verdes e decentes. O diálogo nunca foi tão importante, para que possamos trocarmos ideias, ouvir o outro”, completou.
Durante o Diálogo Talanoa, todo o público teve a oportunidade de interagir com palestrantes e enviar perguntas e comentários sobre os temas. Respondendo sobre os riscos de um novo governo optar por retirar o Brasil do Acordo de Paris, a exemplo do que já ocorreu nos Estados Unidos, a gerente de Sustentabilidade do Santander, Carolina Learth, destacou que isso seria abrir mão de oportunidades de negócios. “Respeitamos a intenção dos votos, mas não podemos voltar atrás em conquistas já obtidas. Nós já demos um passo muito grande no combate às mudanças climáticas”
O Diálogo de Talanoa teve organização do CEBDS junto com o Talanoa Dialogue for Climate, correalização do Museu do Amanhã sob gestão IDG, e patrocínio do Bradesco, Grupo Banco Mundial, Itaú, Santander e Shell, além de contar com o apoio de mídia do Estadão. O objetivo final do evento é submeter a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (em inglês UNFCCC) contribuições empresariais e da sociedade civil nas negociações da COP24 (Conferência das Partes).
Acesse as apresentações abaixo:
Alice Amorim – ICS, Carolina Learth – Santander, Fabio Cirilo – Votorantim Cimentos, Glauco Paiva – Shell, Ilan Cuperstein – C40, Luísa Guimarães – SUNEW e Paulo Artaxo – IPCC.