O documentário “AmarElo – É tudo pra ontem”, do rapper Emicida, não trata apenas de uma parte importante da história da música popular brasileira. É uma aula sobre a História do Brasil. O primeiro ensinamento chega antes mesmo de ouvirmos sua voz num show histórico no Theatro Municipal de São Paulo, em novembro de 2019: “tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri, mas este ano eu não morro.”
“Eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei. E que, de alguma forma, meus sonhos e minhas lutas começaram muito tempo antes da minha chegada. Mas pra isso fazer sentido tem que contextualizar umas paradas.”
Emicida elenca dez pontos que explicam o racismo estrutural da nossa sociedade:
“Primeiro: Estou falando do último país do continente americano a abolir a escravidão. Segundo: de uma cidade que tem sua riqueza baseada na era de ouro do ciclo do café, que tem como sua mão de obra essa mesma escravidão. Terceiro: essa abolição abandona milhões de pretos à própria sorte e é seguida por políticas de branqueamento através do incentivo à migração europeia, da demonização das culturas africana e indígena e de apagamento total não só da memória da escravidão mas de toda contribuição não-branca ao desenvolvimento deste país”. Emicida, nascido Leandro Roque de Oliveira, fala do violento processo de gentrificação da cidade de São Paulo, que empurrou a população mais pobre para a periferia e as margens. Fala de rap, de break e do grafite. E sintetiza: “Vencer é muito mais do que ter dinheiro, o que os jovens querem é reescrever a história desse país.”
Imperdível e emocionante. Pra ontem.