Empresas e entidades se reúnem na Amazônia para construir propostas para os governantes


Com a participação do CEBDS, plenária presencial em Manaus capta a visão dos amazônidas sobre o futuro do desenvolvimento sustentável

Para conhecer a realidade do universo amazônico – onde muitas distâncias são medidas em dias e não em horas –, nada melhor do que mergulhar no território e ouvir quem vive no local, principalmente se for dos mais variados setores da sociedade. A proposta, colocada em prática de forma presencial em maio, pela primeira vez desde o surgimento da pandemia, é apenas um dos passos rumo a um objetivo ousado que está em andamento desde o início do ano.

Com a participação do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), facilitador do Grupo de Trabalho sobre o Engajamento do Setor Privado, a Rede Uma Concertação pela Amazônia abriu as portas para os atores locais das mais variadas áreas. Eles conversaram com empresários da região, sociedade e representantes das comunidades tradicionais durante o encontro em Manaus, capital do Amazonas. O plano é transformar o que foi apresentado em ações concretas, que poderão ser implementadas pelos gestores públicos.

“Em qualquer ação que formos fazer para a região, temos que envolver muito os representantes locais, inclusive os empresários, e de forma ativa”, afirma Karina Simão, consultora na Agenda Amazônia do CEBDS e coordenadora do Movimento Empresarial pela Amazônia. O Conselho, há um ano, assumiu o posto de um dos articuladores da Concertação, rede criada em 2020 de forma plural e apartidária. A iniciativa é formada por mais de 400 líderes dos setores público e privado, academia, sociedade civil, indígenas, artistas e jornalistas. 

No total, existem oito grandes temas dentro da estrutura da Concertação, entre eles o Grupo de Trabalho sobre o Engajamento do Setor Privado, coordenado pelo CEBDS. Todos promovem eventos e uma extensa agenda aberta aos interessados.

“A nossa participação vem na esteira do que fizemos no ano passado, quando articulamos a posição do setor privado apresentada na Conferência do Clima da ONU, a COP26, em Glasgow. Foi um processo que também alimentou a Carta Aberta aos Presidenciáveis, que nós apresentamos em abril”, afirma Karina.

Em paralelo, dentro da Concertação, os representantes do CEBDS também estão participando da construção de um plano de desenvolvimento sustentável que poderá ser implementado por governadores e pelo próximo presidente eleito nos primeiros 100 dias de seus futuros governos. 

Para chegar ao documento final – e serão ações totalmente práticas, como uma proposta legal para que seja feita uma reorganização fiscal e tributária com o intuito de valorizar a economia da conservação –, uma série de plenárias estão sendo feitas. 

Depois das duas primeiras – “Amazônia e as Eleições 2022” e “Educação e Segurança Pública” –, ocorreu em maio a terceira plenária, em Manaus, sobre Saúde e Economia. Os debates, riquíssimos, mostraram por exemplo como a telemedicina tem uma importância fundamental para a região. Ou então, como é preciso equipar melhor os postos de saúde fora das capitais, para que ocorra uma descentralização dos serviços públicos.

Essa realidade da Amazônia será incorporada às propostas e demonstra o impacto profundo gerado pela pandemia. São alguns exemplos de como o “S” do conceito ESG precisa estar em destaque.

“Essa geografia não permite que concentremos a saúde nas capitais amazônicas. Precisamos descentralizar atendimentos complexos para que pessoas da floresta não morram à espera de um avião que nunca chegará e, ao mesmo tempo, não sobrecarreguem os hospitais nas cidades”, explicou durante a plenária Vanda Ortega, técnica de enfermagem e indígena originária do povo Witoto, no município de Amaturá, no Alto Solimões (AM). A revista Página 22 fez a cobertura do evento.

Outros personagens importantes da região, como o empresário Denis Minev, diretor-presidente da varejista Bemol, também apresentaram os seus pontos de vista. Para ele, o que está faltando “é uma grande ambição que traga prosperidade à Amazônia para solucionar muitos dos problemas socioeconômicos e ambientais da região”.

No total serão 14 rodadas temáticas. E o plano será retirar de cada uma delas três propostas para cada um dos temas, gerando um total de 42. Todas as ideias serão trabalhadas em conjunto com um escritório de advocacia para que tudo esteja pronto até o dia 1º de novembro. Assim, os governos de transição poderão trabalhar com o documento em mãos quando já estiverem eleitos e ainda antes de assumirem os postos de fato.