O CEBDS reuniu especialistas em mudanças do clima no dia 19 de fevereiro, no Rio de Janeiro, para levantar, tendo em vista as características e necessidades brasileiras, subsídios para a construção de objetivos da sociedade (também chamados de must-haves) para esta área – uma das nove definidas como prioritárias no projeto Ação 2020. Na reunião, cinco temas prioritários foram apontados e devem servir como recomendação para a definição de soluções empresariais: energias renováveis, cidades, agropecuária, florestas e financiamento para uma economia de baixo carbono.
Participaram da reunião os professores da COPPE-UFRJ Emilio La Rovere e Suzana Kahn; o professor da PUC-RJ Sérgio Besserman; o engenheiro florestal Tasso Azevedo; o superintendente da Fundação Amazônia Sustentável, Virgílio Viana; e o chefe do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), José Marengo.
No encontro foram desenvolvidas recomendações que constarão no texto dos must-haves brasileiros de Mudança do Clima do Ação 2020, a serem debatidas com as empresas associadas. Entre elas, consta o aumento na eficiência da transmissão e uso da energia na indústria, no transporte e nas edificações; apoio ao desenvolvimento de estudos e iniciativas que minimizem os impactos das mudanças climáticas nas cidades em que as empresas atuam e em suas operações; incentivo à utilização de boas práticas agropecuárias capazes de ampliar os estoques de carbono e de diminuir as emissões de gases de efeito estufa; e implementação de inventários sobre a pegada florestal de produtos e serviços.
“A primeira etapa da construção dos must-haves brasileiros prevê ouvir a ciência e entender quais soluções empresariais podem ser incorporadas para que seja possível alcançar o must-haveglobal”, explica Marina Grossi, presidente do CEBDS. O must-have para Mudança do Clima, acordado globalmente, é o de limitar o aumento da temperatura global a 2°C acima dos níveis pré-industriais. O papel protagonista que o setor empresarial deve ter no processo de mudança do cenário global a médio e longo prazos, quando se fala em mudança do clima, foi evidenciado e reforçado pelos especialistas. Dentro do projeto, porém, a grande diferença é ouvir e compreender os anseios da sociedade e assim criar as soluções empresariais (mensuráveis, escaláveis e replicáveis), que caminhem em direção à meta defendida. “O projeto Ação 2020 é um conjunto de ações que traçam uma trajetória até 2050, onde está cravado o aumento de temperatura global a 2ºC. Com este projeto, o setor privado acaba se colocando à frente do público. Muitas metas poderão se juntar às do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, mas falando diretamente com as empresas”, afirma Emilio La Rovere.
Ponto importante e crucial para o sucesso do projeto, a construção e o acompanhamento das métricas gerou debate entre os participantes. Para Suzana Kahn, sem o monitoramento feito de forma correta, não existe maneira de saber se até 2020 as empresas estarão empenhadas em cumprir as metas. A ligação das metas do Ação 2020 com os planos nacionais ligados à mudança do clima também foi enfatizada por Tasso Azevedo. “O 2020 vai elaborar metas empresariais que deveriam estar no Plano Nacional de Mudanças Climáticas, mas sob a luz das empresas”, definiu Tasso, destacando a relevância dos maiores acordos empresariais e globais nas COPs. “Se o acordo da COP em Lima deste ano (em dezembro de 2014, no Peru) resultar nos limites terrestres em 2ºC, acima dos níveis pré-industriais, seria ótimo para alavancar as metas das empresas”, disse.
Ação 2020 e as políticas públicas
Uma característica importante do Ação 2020, compreendida pelos especialistas, é a força política que o projeto deve implicar, reforçando a necessidade de parcerias público-privadas. “As empresas ‘comprando’ as ideias do Ação 2020 terão um poder de transformação enorme. Primeiro porque estamos falando de empresas de peso, e segundo porque em todo este processo há uma potencialidade de inovação enorme, além de mandar um sinal político importante para o governo”, observou Virgílio Viana. Para Sérgio Besserman, sem políticas públicas o setor privado não vai se comprometer tanto, e nem pode. “Não adianta mais as empresas agirem só para a mitigação de emissão de gases de efeito estufa. A palavra de ordem é se adaptar. Mas também não é só isso que garante a diminuição das emissões, políticas públicas são um importante drive para forçar essas metas”.