“Não tenho a menor dúvida de que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são bons para os negócios”, diz Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, o CBDES, referindo-se aos impactos da agenda global que será adotada neste fim de semana por mais de 190 chefes de Estado reunidos na sede das Nações Unidas, em Nova York.”As empresas já têm expertise em sustentabilidade. Já aplicam vários desses ODS [objetivos de desenvolvimento sustentável ] e eventualmente nem sabem disso”, afirma André Gustavo de Oliveira, presidente da Rede Brasileira do Pacto Global, iniciativa da ONU criada em 2000 para aproximar questões de direitos humanos, ambiente e combate à corrupção do mundo empresarial. Está presente em mais de 140 países com 8.000 participantes, sendo 700 no Brasil.
Ele cita o ODS 6, que trata de água e saneamento e ilustra com uma iniciativa do Pacto Global no Brasil que procura reduzir perdas de água na distribuição. Pilotada pela Braskem e Sanasa, a intenção é ter uma gestão mais efetiva da água junto com municípios e comunidades. “Não vejo o setor privado atuando efetivamente como direcionador de sociedades mais evoluídas, sem que tenha presente os ODS em sua estratégia.”
Marina diz que há um esforço das grandes associações do mundo empresarial em traduzir as metas globais da ONU em ferramentas para ação do mundo dos negócios. “As empresas já usam metodologias para medir seu impacto socioambiental”, diz, referindo-se à aplicação do ODS 1, que trata de erradicar a pobreza.
Em janeiro, a ONU promete entregar os indicadores globais para que as 169 metas dos ODS possam ser mensuradas. No Brasil, o trabalho tem sido conduzido pelo IBGE. “A questão é que as empresas não podem ser chamadas apenas na hora da apresentação dos resultados, têm que ser na formulação dos indicadores”, diz ela, repetindo uma demanda das organizações da sociedade civil.
A questão agora será implementar os 17 ODS e suas quase 170 metas. No esforço de tornar mais palatável a rota que, espera-se, orientará o desenvolvimento global até 2030, a ONU chamou Richard Curtis, roteirista do filme “Quatro Casamentos e um Funeral”. Ele empacotou tudo de outra forma. Os 17 ODS – que chama de “Global Goals” ou “Metas Globais” – convergem em três grandes objetivos: erradicar a pobreza, combater a desigualdade e conter a mudança climática.
A falta de recursos financeiros para uma agenda que exige trilhões de dólares é um entrave para que as metas globais se tornem concretas. Estudo recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostra que são necessários cerca de US$ 267 bilhões ao ano para erradicar a fome até 2030.
O desafio não é mais dinheiro, mas é a forma de aplicar os recursos que estão aí”, diz Virgílio Viana, membro do conselho da SDSN-Global, rede da ONU. “Há que se colocar os mecanismos de financiamento que já existem sincronizados com os ODS”, afirma. Viana ilustra com os investimentos de bancos de fomento, como BNDES ou o Banco Interamericano, que financiam estradas, portos ou metrôs.
“A visão deles têm que mudar para que seus financiamentos deixem de ser apenas projetos de infraestrutura para serem projetos de desenvolvimento sustentável daquele território”, afirma Viana, que dá um recado às empresas: “Agora temos que educar os tomadores de decisão no mundo privado”.
Os ODS são transversais entre si. O objetivo 5 versa sobre igualdade de gênero, um tópico que está presente em outras 12 metas globais. “Há consciência nos países-membros que, sem igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, o desenvolvimento sustentável não é possível”, diz Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres. “Tem que ter uma perspectiva de gênero e de raça para que tenhamos políticas públicas, investimentos e programas que tenham impacto.”
Daniela Chiaretti, para o Valor Econômico – 25.09