Movimento Empresarial pela Amazônia: porque produzir e preservar não são verbos antagônicos

A casa de 30 milhões de brasileiros e respondendo por 59% do território brasileiro, a Amazônia vive o desafio de romper com um ciclo de destruição de sua biodiversidade e, ao mesmo tempo, gerar prosperidade para seus moradores mantendo a floresta em pé. Preservar o bioma é condição imprescindível na luta contra a emergência climática, e grande parte dos compromissos assumidos pelo Brasil na COP26 se relacionam com a floresta. Entre eles, zerar o desmatamento ilegal até 2028, reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030 e reduzir 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com os níveis de 2005, além de neutralizar a emissão até 2050.

Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC/ONU) lançado no início de 2022 frisa o quanto é deletéria a combinação entre mudança do clima, desmatamento e queimadas, que tende a comprometer, ainda mais, o papel da floresta amazônica na absorção de carbono, colocando o bioma sob o crescente risco da savanização – o que traria grandes consequências para o regime de chuvas no Brasil, afetando diversos setores econômicos, da agricultura à produção de energia.

Para o setor empresarial brasileiro, produzir e preservar não são verbos antagônicos. Essa foi a mensagem central do Comunicado do Setor Empresarial Brasileiro, lançado pelo CEBDS em julho de 2020 e assinado por 78 empresas, 5 investidores e 8 instituições. O principal objetivo da carta foi destacar “a atenção e preocupação com o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais da Amazônia”, além de apontar ações imediatas a serem adotadas para aplacar as reações negativas de investidores e consumidores estrangeiros ao país. A carta, entregue aos Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário -, reforçou o apoio das empresas à tomada de ações positivas em prol da floresta.

O posicionamento assertivo deu origem, no ano seguinte, ao Movimento Empresarial pela Amazônia, com o objetivo de construir uma agenda efetiva em defesa do desenvolvimento sustentável, da criação de emprego e renda com a floresta em pé e da redução do desmatamento, que representa 43% de nossas emissões de gases de efeito estufa. Com o movimento, o CEBDS e suas associadas buscam manter interlocução direta com diversas instituições e representantes dos Três Poderes para a construção de soluções.

Foram alcançados 100 CEOs para ecoar esse clamor: de um lado, é possível dar escala às boas práticas a partir de políticas consistentes de fomento à agenda ambiental, social e de governança (ESG). De outro, é necessário adotar rigorosa fiscalização de irregularidades de crimes ambientais na Amazônia.

Algumas das empresas signatárias já desenvolvem soluções de negócios que partem da bioeconomia, com valor agregado e rastreabilidade dos produtos. Uma ação do movimento foi assumir a liderança do Grupo de Trabalho (GT) de Engajamento do Setor Privado em parceria com Uma Concertação pela Amazônia, reunindo mais de 40 empresas de diversos setores para se manifestarem em prol do desenvolvimento sustentável na região. Fruto desse GT foi o Posicionamento do Setor Empresarial sobre a Amazônia, lançado na COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, em novembro de 2021, que trouxe seis pilares estruturantes que reforçam a posição do setor no combate ao desmatamento ilegal e promoção de uma economia inclusiva e regenerativa, enfatizando a necessidade da proteção da floresta amazônica e fomentando as oportunidades que ela oferece, ao conciliar desenvolvimento e preservação.

O Movimento Empresarial pela Amazônia entende que a percepção negativa da imagem do Brasil no exterior, causada pelo recrudescimento do desmatamento e das queimadas, tem um enorme potencial de prejuízo para o país, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país. Nesse contexto, esse grupo coloca-se à disposição do Conselho da Amazônia para contribuir com soluções que tenham foco em sete principais seguintes eixos:

• Combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros;

• Inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas;

• Minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas;

• Valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais;

• Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;

 • Direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono;

 • Pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da Covid-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

Precisamos fazer as escolhas certas para estabelecermos os alicerces do país para esta e as próximas gerações. Essa é a visão do Movimento Empresarial pela Amazônia. É hora de redirecionar investimentos para acelerar a recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono e inclusiva, em que não haja controvérsias entre produzir e preservar.