O Fórum de Biodiversidade e Negócios é o mais importante Fórum para o setor privado no âmbito da COP (Conferência das Partes) de Biodiversidade e teve sua primeira edição em 2011. E para o setor de Negócios, a edição deste evento, entre os últimos dias 2 e 3 de dezembro, foi mais importantes acontecimentos do ano de 2016 no âmbito da conservação.
Apesar de “Biodiversidade” ter sido por muito tempo um termo pouco compreendido pelo setor privado, vem se tornando um dos temas mais relevantes na estratégia de longo prazo de negócios empresarias. Não só Biodiversidade, mas também “Serviços Ecossistêmicos”, isto porque o entendimento sobre ambos vem se ampliando e se fortalecendo graças a encontros internacionais como este.
Durante o Fórum realizado no último final de semana foi possível constatar que ainda há espaço para avançar. Há aqueles que ainda fazem discursos com foco geral em sustentabilidade e têm certa dificuldade de apresentar resultados concretos em conservação da biodiversidade e a relação com seus negócios. Ainda assim, é nítido o avanço do setor privado em relação ao reconhecimento de sua dependência a serviços ecossistêmicos e à biodiversidade. Não só executivos responsáveis pela aérea de sustentabilidade das empresas, mas CEOs e diretores, inclusive de áreas como Suprimentos, estiveram presentes no Fórum e puderam interagir e compartilhar avanços e desafios nos diferentes âmbitos, cenários e contextos da relação entre empresas e Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.
A presença de representantes de ONGs internacionais com forte relação com programas direcionados a empresas e biodiversidade, como CI (Conservação Internacional) e IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), foi marcante já na primeira plenária do Fórum. Para Peter Seligmann, CEO da CI, um dos maiores desafios para a conservação continua sendo a comunicação. Ou seja, precisamos desenvolver conteúdos e ferramentas de comunicação mais eficientes, que não só sensibilizem as pessoas, mas que de fato transformem comportamento, incluindo no setor privado. Este talvez seja o desafio do século: transformar comportamento. De qualquer forma, parece que muitas empresas já estão nesse caminho.
O Secretário de Economia do México, lldefonso Guajardo Villarreal, acredita que ideais inovadoras no processo produtivo que conciliem a conservação da biodiversidade precisam ser criadas e, principalmente, divulgadas e que “campeões da biodiversidade no setor privado” deveriam ser identificados e reconhecidos. Idealmente, o reconhecimento e os incentivos às empresas, que comprovadamente tenham em sua estratégia a conservação da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, é chave para o engajamento mais veloz do setor privado.
Por outro lado, muitas empresas apresentaram grande avanço em suas estratégias, desde projetos focados em conservação no nível de espécies a projetos de restauração de ecossistemas inteiros. É importante ressaltar que as empresas avançaram no sentindo de apoiarem não por filantropia, mas porque de fato estão reconhecendo a necessidade da proteção de espécies e serviços ecossistêmicos para a manutenção de suas operações no longo prazo. Algumas empresas, como a Mondi, surpreenderam ao apresentar projetos concretos de restauração com foco em conservação da paisagem. Já o Grupo Boticário e Natura, empresas 100% brasileiras, apresentaram soluções de baixo impacto à biodiversidade na cadeia produtiva.
O Brasil teve uma relevante participação e a CNI (Confederação Nacional da Indústria), representada por Elisa Romano, apresentou a IBNB (Iniciativa Brasileira de Negócios e Biodiversidade), que mostrou inúmeros exemplos de parcerias entre empresas e a sociedade civil no Brasil e que vêm se tornando exemplo global de sucesso, como a parceria entre a Votorantim e a Conservação Internacional (CI) na elaboração de um Plano Estratégico de Gestão para o Legado das Águas – Reserva Votorantim.
Outro tema de alta relevância a muitas empresas foi “acesso à biodiversidade”, que no caso do Brasil dispõe de Lei1 e está na expectativa da ratificação do Protocolo de Nagoya2. Inúmeras empresas estão buscando soluções para se preparem para um cenário de definição global de como acessar a Biodiversidade e repartir benefícios, já que os países estão nesta COP definindo os mecanismos do Protocolo de Nagoya.
Talvez, uma das formas mais práticas de se entender a necessidade de conservação da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos seja a relação direta com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Pavan Sukhdev, Diretor da GIST e criador do TEEB3, apresentou uma forma bastante interessante de correlação entre os ODS: dos 17 objetivos, a base seria a manutenção da biodiversidade e serviços e ecossistêmicos. O modelo apresentado por Pavan foi batizado de “bolo de noiva”, onde os ODS são organizados num padrão que se assemelha ao bolo em camadas, onde é necessário ter uma base de sustentação. Neste caso, a sustentação seria dada pela manutenção dos serviços ecossistêmicos.
De fato, se a sociedade não desenvolver formas eficientes de conservação da biodiversidade e serviços ecossistêmicos não só os negócios estarão ameaçados. Não é apenas uma questão a ser tratada com foco nas gerações futuras; há que se pensar também no agora. E, como executivos é fundamental a busca por soluções inovadoras para que a competição por recursos não inviabilize negócios e operações.
Biodiversidade também é business.
1 Lei 13.123/2015, entrou em vigor no final de novembro de 201. As companhias que utilizam matérias-primas naturais – originárias de ativos naturais – devem destinar 0,75% da receita a projetos que beneficiem o meio ambiente e as comunidades onde atuam. O governo, como alternativa, também prevê que as empresas repassem 1% dos proventos a um fundo nacional que está sendo constituído.
2 Protocolo de Nagoya: Documento de definição de mecanismos internacionais de acesso a recursos genéticos e a repartição justa e equitativa de benefícios advindos de sua utilização.
3 TEEB: The Economics of Ecosystems and Biodiversity