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Empresários propõem metas de redução de impacto sobre a natureza em novo marco global da ONU

31/01/2022


Setor defende a criação de limites para os danos e o corte de financiamentos prejudiciais à biodiversidade em acordo que está sendo debatido por 196 países

Empresas querem ações de proteção à natureza, que trarão benefícios à produção de alimentos, à pesquisa de medicamentos e cosméticos e à inovação

O setor empresarial quer a criação de metas e parâmetros para diminuir o impacto dos negócios sobre a natureza nos próximos anos. Deseja também cortar financiamentos para ações que prejudiquem a biodiversidade do planeta. O objetivo é construir um novo modelo de desenvolvimento econômico, focado na conservação de ecossistemas, animais e plantas.

Isso porque o atual cenário global, de exploração predatória, coloca em risco atividades como a produção de alimentos, a pesquisa de novos medicamentos e cosméticos, a recarga de fontes de água potável, a inovação científica e genética e a oferta de matérias-primas para atividades comerciais e industriais. O setor empresarial quer ser parte efetiva na transformação para um desenvolvimento sustentável.

A demanda do setor empresarial está sendo discutida dentro do ambiente da ONU, na Convenção sobre Diversidade Biológica, que está em fase de elaboração do chamado Marco Global de Biodiversidade Pós-2020, com regras previstas a serem executadas pelos governos nacionais e empresas. Em março, a cidade suíça de Genebra vai sediar uma nova rodada de debates, reunindo os 196 países na busca pelo texto final do documento.

O Marco da Biodiversidade terá efeito semelhante ao Acordo de Paris em relação ao combate às mudanças climáticas. Ou seja: o mundo definirá o que precisa ser feito, até 2030, para evitar danos ainda maiores à natureza e como recuperar os ecossistemas.  A preocupação com o tema vem ganhando cada vez mais peso, a ponto de o Fórum Econômico Mundial ter acabado de listar a perda de biodiversidade como o terceiro principal risco global.

O posicionamento do setor é liderado no Brasil pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), que representa mais de 80 companhias e quase 50% do PIB brasileiro. O Conselho atua em conjunto com o Business for Nature nas negociações para defender a posição do setor produtivo.

O objetivo é garantir que o setor empresarial tenha participação ativa nesse novo modelo, tal qual aconteceu nas discussões sobre o clima. Assim, as empresas terão metas a cumprir em suas operações, mas também serão motores da inovação e da transformação da economia global para um desenvolvimento sustentável.

A versão mais recente do Marco da Biodiversidade passou a incluir duas metas para os negócios. Uma delas, a meta 15, determina que as empresas avaliem e relatem seus impactos sobre a biodiversidade e reduzam pelo menos pela metade seus efeitos negativos. É uma proposta que pode se tornar muito relevante, como o mercado de carbono global previsto no Artigo 6 do Acordo de Paris. Isso porque coloca as empresas como atores centrais na conservação da natureza, tanto em relação a metas a cumprir quanto ao criarem soluções para esse desafio.

Já a meta 18 prevê redirecionar, reaproveitar, reformar ou eliminar incentivos prejudiciais à biodiversidade, em pelo menos US$ 500 bilhões por ano, incluindo todos os subsídios mais prejudiciais, e garantir que os incentivos econômicos e regulatórios sejam positivos ou neutros para a biodiversidade. Na prática, significa aplicar o dinheiro de novos financiamentos em projetos que, em vez de destruírem a natureza, consigam conservá-la.

“As propostas do setor empresarial vão incentivar os negócios a gerarem impactos positivos sobre a natureza. Ao colaborar na definição de metas e métricas para a operação e priorizar investimentos em soluções sustentáveis, as empresas querem promover, já no curto prazo, um novo modelo de desenvolvimento, baseado em uma economia verde, que gere empregos e renda de forma sustentável”, afirma Henrique Luz, coordenador técnico do CEBDS e líder da Câmara Temática de Biodiversidade no CEBDS.

Nos últimos anos, o setor empresarial vem trabalhando em conjunto com os governos brasileiros na construção do novo Marco da Biodiversidade. São os países que têm voz e votam nas convenções da ONU, por isso as empresas vêm dialogando com os representantes brasileiros para encontrar a melhor proposta. O Brasil tem papel fundamental nesse processo, já que é o país mais megadiverso do mundo – possui a maior riqueza e variedade de espécies vegetais e animais, além de vários tipos de biomas. Por isso, tem potencial para protagonizar as discussões e demonstrar que é possível produzir e conservar ao mesmo tempo, gerando empregos e renda sem destruir a natureza.