Economia Circular – Análise das Métricas Circulares

A economia linear, baseada na extração – produção – utilização – descarte, está se tornando ambientalmente insustentável devido à exploração ilimitada dos recursos naturais e à grande geração de resíduos sólidos provenientes da produção e do consumo em geral. Para que possamos minimizar esse impacto e gerar uma efetiva mudança de paradigma, precisamos acelerar a transição rumo a uma economia circular e de baixo carbono. A economia circular propõe uma mudança na forma de consumo, onde devemos repensar, desde o design dos produtos, até nossa relação com as matérias-primas e resíduos descartados após o uso.

 

Para auxiliar nesse processo, foram desenvolvidas métricas que visam medir e quantificar a circularidade nas empresas, independentemente do seu tipo, atividade e dimensão.

 

Com base no documento sobre métricas circulares desenvolvido pelo WBCSD, fizemos uma análise das principais métricas utilizadas no mercado, considerando os custos, benefícios e as metodologias adotadas em cada uma delas.

 

As métricas “circulares” normalmente divulgadas pelas empresas podem ser divididas em três categorias:

 

1 – Métricas de eficiência operacional – métricas de desempenho padrão que podem ser rastreadas antes mesmo de um programa de sustentabilidade corporativa ser adotado. Exemplos incluem eficiência de recursos, consumo de energia, água e resíduos. (métrica utilizada por 44% das empresas entrevistadas)

2 – Métricas de desempenho em sustentabilidade – verificam impactos ambientais e sociais das atividades e produtos da empresa. As métricas incluem emissões de gases de efeito estufa, atores locais engajados ou impacto na biodiversidade. (49% da empresas)

3 – Métricas de criação de valor circular – rastreiam como o negócio  está melhorando através de iniciativas de circularidade. As métricas incluem receita circular, percentual circular da carteira e valor preservado. (7% das empresas)

 

Há uma tendência das empresas adotarem indicadores de relatórios de eficiência operacional e de sustentabilidade antes dos indicadores de criação de valor circular.

 

Foram destacados os 4 frameworks mais utilizados para medir a circularidade de empresas:

 

1 – Material Circularity Indicator (MCI) – ferramenta desenvolvida pela Fundação Ellen MacArthur e pela Granta Design em 2015 que calcula a quantidade e intensidade de circulação nos níveis do produto e/ou da empresa (fluxos circulares e restaurador). A ferramenta também permite comparar seu desempenho com a média do seu setor.

2 – Life Cycle Assessment (LCA) – essa ferramenta, criada na década de 1960 e atualizada ao longo dos anos, não é considerada uma ferramenta dedicada à Economia Circular. Ajuda a avaliar os impactos ambientais ou sociais de um sistema de produtos em cada etapa de seu ciclo de vida (desde a extração de matéria-prima até o fim do uso). Uma vez medido, fornece insights de como minimizar o impacto natural e social do capital, além de oferecer insights em como aprimorar a circularidade.

3 – Circular Economy Toolkit (CET) – ferramenta desenvolvida pela Universidade de Cambridge em 2017 identifica e avalia a potencial melhoria da circularidade dos produtos. Quanto às ferramentas, também fornece recomendações de melhoria em cada etapa do ciclo de vida.

4 – Circular Economy Indicator Prototype (CEIP) – ferramenta desenvolvida por Griffiths and Cayzer em 2016 avalia o desempenho de circularidade do produto no contexto da Economia Circular. O CEIP dá uma pontuação geral (%) e um diagrama de radar com desempenho de cada etapa do ciclo de vida.

 

Aqui temos algumas recomendações para se definir um framework comum a ser utilizado pelas empresas para medir o desempenho na economia circular. Essas recomendações, que também podem servir como princípios para o framework, devem ser entendidas como uma lista de verificação e não como um menu:

  1. Impulsionar o desempenho circular do negócio
  2. Atingir públicos específicos dependendo dos objetivos da empresa
  3. Considerar um escopo abrangente de sustentabilidade
  4. Garantir flexibilidade e inclusão
  5. Adotar uma abordagem em fases para incorporar capitais
  6. Construir sobre as estruturas e padrão existentes
  7. Impulsionar a mudança de cultura e fornecer orientação

 

Métricas para Circularidade

 

  • ACV ou LCA

 

De acordo com os autores Coelho Filho; Saccaro Junior e Luedemann no texto sobre a Avaliação de Ciclo de Vida como Ferramenta td_2205.pdf (ipea.gov.br), temos a seguinte descrição para a ACV, seus benefícios e metodologias:

 

ACV – Avaliação do Ciclo de Vida ou LCA (Life Cycle Assessment):

A avaliação do ciclo de vida (ACV) é uma ferramenta de gestão criada para computar entradas e saídas de um sistema de produção, com o objetivo de avaliar o desempenho ambiental dos produtos durante as diversas etapas do seu ciclo de vida. Em 1997, foi lançada a ISO 14040 Gestão Ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida – Princípios e Estrutura. Uma série de outras normas foi publicada até a última, ISO 14044:2006 com os requisitos e orientações para a execução de um estudo ACV.

 

Benefícios:

Os principais objetivos da ACV são melhorar o desempenho ambiental dos processos produtivos e auxiliar na criação de produtos sustentáveis (ecodesign)

 

** Paula Melton, editora da BuildingGreen, não considera a ACV como uma boa ferramenta de marketing verde, uma vez que ela não pode afirmar que um produto é mais sustentável que outro. O que se pode dizer é que um produto ou serviço pode melhorar seu desempenho ambiental e indicar em que áreas do ciclo de vida do produto isso é possível e desejável. **

 

Lógica da metodologia ACV:

 

A avaliação do ciclo de vida é gerada em quatro etapas:

1- Definição e objetivos do escopo

2- Análise do inventário de ACV (ICV) – etapa quantitativa. Atualmente existem diversas bases de dados para se adquirir informações sobre dados indiretos (background) como a Ecoinvent database, USLCI database, ELCD e o GaBi database

3 – Avaliação de impactos (AICV) – etapa onde se transforma os dados ICV- Inventário do Ciclo de Vida –  em impactos ambientais quantificáveis para cada fluxo de insumo/produto/resíduo do processo produtivo. Existem diversos métodos AICV -Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida, onde todas as 5 etapas do processo de AICV – classificação, caracterização, normalização, ponderação e  agregação – são considerados, entre eles o RECIPE, Eco-Indicator 99 Eco-Indicator 99 (sphera.com) do sistema GaBi e o CML-IA, EDIP2003, IMPACT2000+ e IMPACT WORLD,TRACI,EPS2000

4 – Interpretação – relaciona os dados da ICV e da AICV e propõe recomendações de melhoria do processo no escopo determinado da análise. Nesta fase, podem ser propostos indicadores de sustentabilidade para os pontos críticos de vulnerabilidade ambiental (ISO, 2006; 2010).

 

Custos:

Consultorias especializadas em ACV – (Valor da consultoria só sob consulta)

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) (acvbrasil.com.br)ACV Brasil – Softwares

Avaliação do Ciclo de Vida – EnCiclo

Consultoria em Economia Circular – Upcycle (upcyclebrasil.com.br)

 

SICV

O Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV Brasil) é um banco de dados criado pelo IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia  –  para abrigar Inventários do Ciclo de Vida (ICVs) de produtos nacionais. O sistema é um gerenciador de bases de dados que visa um conjunto consolidado dos inventários brasileiros, o que implica diretamente no aumento da competitividade da indústria nacional vinculado a um melhor desempenho ambiental de produtos e serviços. Possibilita que diferentes usuários de diversos setores, como governo, indústria, academia, mantenham seus inventários dentro de um mesmo vínculo chamado de “Nó”. Esses vínculos se conectam formando uma rede de dados de ACV, baseada em uma estrutura de informações mundialmente integrada.

 

 

CTI – Circular Transition Indicator:

Sistema quantitativo e flexível, de fácil implementação, com o objetivo de identificar riscos e oportunidades para determinar prioridades circulares e definir objetivos.

A metodologia possibilita às empresas a medição da circularidade a todos os níveis, desde o nível do produto até à totalidade do negócio, para que as empresas possam usar os indicadores no nível que melhor se adeque à sua atividade. Com a CTI, é possível capacitar as empresas na sua transição circular, permitindo-lhes compreender melhor o seu potencial para a economia circular.

 

Para otimizar a acessibilidade e a usabilidade da CTI, foi estabelecida uma parceria com a Circular IQ para desenvolver a ferramenta online CTI: www.ctitool.com. Esta ferramenta estrutura os dados e calcula os resultados por indicador. Ela também ajuda as empresas a obter os dados necessários junto aos parceiros da cadeia de valor sem suscitar preocupações com a privacidade ou a confidencialidade.

Qualquer empresa, independentemente da sua dimensão, setor ou posicionamento na cadeia de valor, pode usar este modelo. Como tal, a seleção dos indicadores relevantes varia de empresa para empresa.

 

** O sistema não pretende substituir os atuais sistemas de sustentabilidade utilizados pela indústria; ele fornece uma perspectiva adicional sobre o desempenho em termos de circularidade.

 

Histórico:

Ao analisar os vários sistemas para calcular a circularidade, como o Material Circularity Indicator e a Circulytics, da Fundação Ellen MacArthur, o Circle Scan e a Circularity Gap Report Initiative, da Circle Economy 6, ou a Circularity Check, da Ecopreneur.eu, concluiu-se que havia a necessidade de uma abordagem de análise interna e quantitativa além da autoavaliação qualitativa da circularidade feita por essas metodologias. Tendo como base os fluxos de materiais, a CTI integra a água, as energias renováveis e o valor acrescentado no âmbito da empresa, a fim de gerar uma perspetiva multidimensional do seu desempenho circular.

 

** A CTI obedece aos princípios de economia circular da Fundação Ellen MacArthur:

– Eliminar resíduos e poluição desde o princípio

– Manter produtos e materiais em uso

– Regenerar sistemas naturais

 

Benefícios para as empresas:

A CTI proporciona às empresas uma percepção sobre o seu desempenho em termos de economia circular, permitindo-lhes:

– Identificar oportunidades circulares e riscos lineares.

– Estabelecer uma base de referência e acompanhar o progresso realizado na sua transição circular

– Responder a clientes e stakeholders externos

– Iniciar o diálogo na cadeia de valor sobre prioridades circulares partilhadas

– Atrair novos negócios

 

Lógica da metodologia CTI:

A CTI disponibiliza o seguinte menu de indicadores:

Fechar o Ciclo  – A capacidade de uma empresa fechar ciclos de materiais está no cerne desta metodologia. Consequentemente, as empresas iniciam a sua avaliação com estes indicadores:

  • % fluxos de entrada circulares (por fluxo de materiais)
  • % fluxos de saída circulares (por fluxo de materiais)
  • % de circularidade da água
  • % de energia renovável.

 

A percentagem de circularidade baseia-se na média das entradas circulares e das saídas circulares ponderadas pelo peso, dividida pela massa das entradas e saídas total.

 

Otimizar o Ciclo – Estes indicadores ilustram o desempenho das empresas na maximização da eficiência dos recursos, além da salvaguarda dos ciclos de materiais. O módulo inclui dois indicadores:

  • % de materiais críticos
  • % de tipo de recuperação (reutilizado, reparado, reabilitado, remanufaturado, ..)
  • Circulação de água no local (reutilização e reciclagem nas instalações)

 

Valorizar o Ciclo  – Este módulo fornece uma perspetiva acerca do valor criado pela atividade circular. Relaciona os indicadores de fluxos de materiais com métricas financeiras convencionais:

  • Produtividade dos materiais circulares
  • Receita CTI (receita por produto, receita por nível de circularidade por produto ou grupo de produtos)

 

Custos:

pacote profissional (básico) –  7.500, euros/ano ou 18.000 euros/3 anos

pacote premium 12.500 euros/ano ou 30.000 euros/3 anos

 

  • Circulytics- Ellen Macarthur Foundation

 

Circulytics:

Ferramenta disponibilizada gratuitamente pela Ellen Macarthur Foundation para medir o grau de circularidade de toda operação de uma empresa. A ferramenta apoia a transição de uma empresa para a economia circular, independentemente da indústria, complexidade e tamanho.

 

Benefícios:

1- Apoia a tomada de decisões e o desenvolvimento de estratégia para adoção da economia circular

2- Proporciona transparência e gera valor de marca para investidores e clientes sobre a adoção da economia circular de uma empresa – se a empresa optar por publicá-la

3- Demonstra pontos fortes e áreas de melhoria

4- Mede o desempenho da economia circular de toda a empresa – não apenas seus produtos e fluxos materiais

5- Permite, ano após ano, acompanhar o progresso em direção à meta de economia circular

 

Lógica da metodologia Circulytics:

O Circulytics mensura o desempenho de economia circular de todas as operações de uma empresa usando uma série de indicadores abrangentes. Eles são divididos em duas categorias. Dentro de cada categoria, os indicadores são agrupados em 11 temas. Cada tema recebe um peso que representa sua significância empírica na transição para uma economia circular, e na categoria Resultados depende do tipo de empresa que está sendo avaliada.

 

Categorias:

1- Viabilizadores – aspectos essenciais para viabilizar uma transformação em toda a empresa. São considerados os seguintes temas para qualquer empresa:

– Estratégia e Planejamento

– Inovação

– Pessoas e Competências

– Operações

– Engajamento Externo

 

2- Resultados – mensuração da circularidade da companhia. Cada empresa é avaliada por subdivisões dos temas da categoria Resultados, com base na relevância para cada negócio:

– Produtos e Materiais

– Serviços

– Ativos Imobilizados

– Água

– Energia

– Finanças

 

 

Por Beatriz Sigaud

Voluntária do CEBDS

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