Setor empresarial na Amazônia: problema ou solução?

“Eu não quero sua esperança, quero que você entre em pânico e sinta o medo que sinto todos os dias. E eu quero que você aja. Quero que você aja como se sua casa estivesse em chamas. Porque ela está.” 

Greta Thunberg no Fórum Econômico Mundial em Davos, 2019.

Queimadas de proporções nunca antes vistas estão ocorrendo na Amazônia, especialistas estimam que perdemos 15 mil km² de vegetação só este ano causada em sua maioria por desmatamento ilegal. Todos nós somos partes deste problema, mas também da solução e, diante desta realidade, o painel “Como o setor empresarial está apoiando a Amazônia?”, promovido pelo CEBDS na Semana do Clima de Nova York, compartilhou boas práticas e provocações visando a conscientização e o aumento da ambição na transição para um modelo econômico e social de carbono neutro.

Como já falamos aqui no blog, para realizarmos essa transição, é necessário entendermos que a produção pode coexistir com a preservação ambiental e quando nos referimos à produtividade, não se trata do antigo conceito que assume que os recursos são infinitos, mas sim, reconhecendo seus limites e propósitos. 

Para discutir essa relação, o CEBDS organizou o evento que contou com a presença de Marina Grossi, presidente do CEBDS; Tasso Azevedo, coordenador do Map Biomas; André Guimarães, Cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e Diretor Executivo do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM); Alessandra Fajardo, Diretora Estratégica de Meio Ambiente e Engajamento na Agricultura da Bayer América Latina; Luciana Villa Nova, Gerente de Sustentabilidade da Natura Global; e Karine Bueno, Diretora de Sustentabilidade do Santander Brasil. 

Marina Grossi abriu o evento afirmando que o setor empresarial brasileiro reconhece as vantagens do Brasil com relação aos seus recursos naturais: “Somos referência em energias renováveis e possuímos grande potencial com relação à biodiversidade, mas que temos muito mais a fazer”. Como resposta a este momento sem precedentes, o CEBDS, a partir do Comunicado do Setor Empresarial contra o Desmatamento, iniciou um movimento para que empresas e sociedade civil tenham suas vozes ouvidas pelo governo. Atualmente, 80 CEOs compactuam com os valores e soluções nele apresentados. 

André Guimarães descreveu valores chave para não se replicar a visão e a postura ditas colonizadoras e opressoras sobre a Amazônia: “Não podemos substituir um modelo ruim por outro modelo ruim. O centro de tudo deve ser ouvir o povo e dialogar para, assim, atualizar suas diretrizes e seus compromissos.

Sobre os desmatamentos, Tasso Azevedo afirmou que em 75% dos casos descobre-se quem foram os culpados e, caso ocorra em áreas protegidas, o número sobe para 95%. Ainda, no ano passado, o desmatamento foi identificado em menos de 1% das propriedades, mas lembrou que o desmatamento ocorre em volume suficiente para causar todos os danos que reconhecemos como alteração de regimes hídricos, piora na qualidade do ar, perda de habitat, piora na reputação do Brasil, entre outros. 

O agronegócio, em geral visto como “vilão” da preservação das florestas, é altamente dependente da Amazônia e peça-chave na solução. André Guimarães informou que 90% da agricultura brasileira não é irrigada, dependendo integralmente do regime natural de chuvas regulado pela Amazônia. Além disso, essa frequência e volume de chuvas nos permite ter duas safras ao ano na região do Cerrado, fator importantíssimo de competitividade internacional no setor agrícola.

Alessandra Fajardo afirmou que ao invés de assumir postura passiva de apenas comprar títulos de compensações de emissões, a Bayer decidiu incorporar a sustentabilidade em suas práticas. Ela apresentou as metas 30/30/100 que constituem em 30% de redução nas emissões de GEE na agricultura que está sendo aplicada por meio da Iniciativa Carbono Bayer em parceria com a EMBRAPA; 30% de redução no impacto ambiental do portfólio; e empoderamento de 100 mil pequenos e médios produtores de países em desenvolvimento promovendo soluções sustentáveis. Além do cumprimento das metas internas, a empresa realizará compensação das emissões proveniente dos transportes por meio do plantio de árvores (Programa Revita Bayer) e tem implantado a rastreabilidade em sua cadeia produtiva.

Já a experiente Natura, presente na Amazônia há 20 anos, continua dando o bom exemplo com boas práticas incluindo o reflorestamento de uma área equivalente ao tamanho da Holanda e apresentando meta de zerar as emissões líquidas de GEE gases efeito estufa (GEE) até 2025. Luciana Villa Nova destacou a importância da inclusão social das comunidades locais, o respeito ao conhecimento tradicional e basear-se na regeneração e conservação da floresta. Compartilhar os benefícios produzidos pela cadeia com os produtores locais os auxilia a proteger a floresta, criando, assim, um ciclo positivo. Faz 10 anos que a Natura tem se dedicado à conscientização e educação para valorizar e vender seus produtos, mostrando os benefícios e a riqueza da biodiversidade dos produtos da Amazônia, nacionalmente e internacionalmente, criando uma conexão dos consumidores com o bioma. Outras estratégias utilizadas pela empresa consistem em monetizar seus impactos ambientais e monitorar o uso da terra, água e energia para considerá-los nas tomadas de decisão e planejamento estratégico. Por fim, Luciana declarou que a maior lição de todas é respeitar os povos locais e os limites da natureza e que as Soluções Baseadas na Natureza são o futuro das empresas.

Karine Bueno, do Santander, representou o setor financeiro no webinar anunciando a cooperação e mobilização que sua empresa está realizando junto aos seus tradicionais concorrentes, Itaú e Bradesco, visando a colaboração para um modelo econômico sustentável para a Amazônia. Algumas de suas iniciativas incluem a criação de estrutura financeira para apoiar a agricultura sustentável, o monitoramento da cadeia de produção e apoio em questões regulatórias fundiárias em conjunto com consultorias jurídicas. Ela revela que apesar de ainda estar em fase inicial de entendimento do potencial que a bioeconomia traz, convida todos os setores a se engajarem com os mesmas diretrizes, como o Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD, aprenda mais sobre o assunto aqui).

“O que as instituições devem realizar?” foi uma das perguntas do público direcionadas a André Guimarães, que nos apontou as seguintes direções:

  • Em primeiro lugar, acabar com o desmatamento;
  • Em segundo, respeitar os direitos indígenas e combater o preconceito;
  • Em terceiro, adotar a bioeconomia e biosoluções eficientes;
  • E, sobretudo, adotar um novo contrato social entre ONGs, governos, empresas, sociedade civil e academia. 

Também é possível começar a planejar as suas ações efetivas lendo os 10 Princípios Empresariais para uma Amazônia Sustentável, lançado recentemente pelo Instituto Arapyaú. 

Se você não ficou inspirado com esses exemplos, e se na sua empresa essa discussão ainda não começou, inicie com as seguintes provocações feitas por Tasso Azevedo: “Não evite a Amazônia. O melhor modo de ajudar é fazer negócios com a Amazônia, estaremos levando chances e oportunidades às pessoas […] toda a economia e saúde depende de como estão os nossos biomas, especialmente a Amazônia. O que você tem feito pela preservação dos nossos biomas?”, “Que tipo de modelo econômico posso adotar pela floresta em pé?”; e para terminar: “O quão rápido você deseja essa transição? Faça negócios de maneira inovadora de maneira sustentável, e faça agora.”

Por Elissa Mitsuko Tokusato e Karen Tanaka

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