A presidente do CEBDS, Marina Grossi, participou hoje da Audiência Pública “Agenda 2030” do Conselho Nacional de Justiça. Em sua fala Marina destacou que o Brasil pode conservar e produzir ao mesmo tempo, e que a nova economia é necessariamente descarbonizada.
O desmatamento ilegal foi um dos pontos destacados pela presidente do CEBDS. Importante frisar que o desmatamento ilegal e sistemático da Amazônia é um desrespeito à constituição e privilegia que age acobertada pela falta de penalidade. Desde 1985, o Brasil perdeu 89 milhões de hectares de áreas nativas, o equivalente a 3,6 vezes a área do estado de São Paulo.
“O desmatamento beneficia uma parcela pequena criminosa, e é preciso que seja combatido com muita força. É importante integração. Minha sugestão é que avancemos na questão do desmatamento com metas e sinalizando que a situação vai mudar. Isso colocará o Brasil como protagonista na aplicação de soluções baseadas na natureza”, disse Marina Grossi.
Depois de mais de uma década em que conseguimos diminuir o desmatamento, voltamos a crescer desenfreadamente desde 2012, com uma clara tendência de crescimento constante do desmate. O acumulado dos primeiros quatro meses de 2020, de acordo com o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), foi de 1.703 km², uma área maior que a cidade de São Paulo (1.521 km²) e um número 133% maior que o mesmo período em 2019, quando o sistema registrou o desmatamento de 460 km².
De agosto de 2019 a julho de 2020, o crescimento foi de 34% em comparação com o mesmo período anterior, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, os dados de julho mostram uma destruição considerável no bioma: foram mais de 1.500 km² devastados em 30 dias.
“Não existe marketing que resolva a questão do desmatamento, caso não tenhamos medidas específicas contra o desmatamento. Devemos juntar esforços para que possamos contribuir com dados que resultem em metas específicas”, indicou Marina Grossi.
Para o Setor empresarial brasileiro, produzir e preservar não são verbos antagônicos, por isso, lançamos o comunicado do setor empresarial brasileiro em 7 de julho, com a assinatura de 42 lideranças de empresas e instituições.
Trata-se de um documento aberto, que hoje conta com 76 assinaturas, inclusive cinco fundos de investimento nacionais. O Brasil sabe que a maior parte do desmatamento é ilegal, feita por um grupo reduzido de pessoas. Assim, está muito claro para o setor produtivo brasileiro que é preciso fazer mais para combater o desmatamento ilegal na amazônia.
Nós entendemos que o governo brasileiro precisa implementar rapidamente medidas efetivas de combate ao desmatamento ilegal no país. Isso passa necessariamente pelo fortalecimento dos órgãos ambientais e também pela ampliação das equipes de fiscalização.
No comunicado, o setor empresarial lembra que algumas das empresas signatárias já desenvolvem soluções de negócios que partem da bioeconomia, com valor agregado e rastreabilidade dos produtos, inclusive, na Amazônia.
Além do efetivo combate ao desmatamento ilegal, são apontados pelo documento como focos prioritários de ação: (i) inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas; (ii) minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas; (iii) valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais; (iv) adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono; (v) direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono; e (vi) pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da COVID-19, condicionada a uma economia circular e descarbonizada.
O documento encerra com uma mensagem de otimismo, lembrando que o Brasil tem a oportunidade única, os recursos, e o conhecimento para dar escala às boas práticas e, mais do que isso, planejar estrategicamente o futuro sustentável do país. E que é preciso redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva.
“Grandes empresas operam na Amazônia. E esses CEOs assinaram o comunicado falando que não pode acontecer mais desmatamento ilegal. Devemos ter uma atuação efetiva do judiciário. Começamos apresentando o comunicado para o Vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em seguida para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Depois para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e hoje iremos conversar com Augusto Aras, procurador-geral da República”, afirmou Marina Grossi.
Para conhecer os signatários e o documento acesse aqui.
Algumas das grandes empresas com presença e atuação na amazônia vêm apresentando soluções e modelos de negócios que partem da bioeconomia e que deve vigorar numa sociedade que exige maior valor agregado ao produto, incluindo a rastreabilidade confiável:
Atua nas comunidades locais da amazônia para fazer sua base de cosméticos mundialmente conhecida. O projeto Ekos valoriza ativos ambientais locais e cria mecanismos de geração de renda para os chamados de “guardiões da floresta”. A natura compra quase um quinto de seus insumos da região amazônica e tem o objetivo de chegar a 30%. apesar de todas as dificuldades, que não são apenas logísticas, o projeto atende mais de 4,6 mil famílias e conserva 1.8 milhões de hectares.
Atua há mais de 100 anos no município de Maués, na Amazônia, também conhecido como terra do guaraná. A empresa consome 100% da fruta utilizada na produção do guaraná antártica colhida na cidade, sendo mais de 80% de produtores locais, que recebem mudas produzidas em uma fazenda da própria empresa. Mesmo preservando 80% da fazenda, a produção da fruta cresceu 140% na última década. A ambev beneficiou duas mil famílias locais em um trabalho 100% manual. A empresa atua junto à comunidade com atividades sociais e de capacitação, com compartilhamento de técnicas. Além disso, distribui anualmente 50 mil mudas de guaraná para 150 famílias. o impacto reverbera e, em dois anos, foi possível promover 52% de aumento na renda de produtores locais.
Partindo da máxima “do lixo ao luxo”, a Votorantim Cimentos cria valor para o açaí, fruta típica da região. Composto por 80% de caroço, até então descartado em quantidades acima de 300 mil toneladas, o açaí foi reconhecido pelo seu valor calórico nos fornos da companhia. O caroço, processado na região substitui o coque que viaja mais de 10 mil quilômetros para chegar à unidade de primavera, no Pará. O uso do produto local, além de diminuir as emissões diretas, também diminui os gases emitidos no transporte. Uma das alavancas de redução de emissões do setor de cimento é a substituição do combustível fóssil. hoje, 40% da energia em primavera é suprida com bagaço de açaí. Somente em 2018, a cimenteira evitou a emissão de 117 mil toneladas de carbono diretamente. se somar as emissões indiretas, foram evitadas mais 200 mil toneladas de carbono na atmosfera.