Por Marina Grossi
A experiência tem nos confirmado que entre os maiores desafios para a implantação do desenvolvimento sustentável – independentemente da dimensão da iniciativa – está a nossa capacidade de envolver, de forma articulada e transparente, o poder público, as empresas e as demais instituições da sociedade organizada.
O Rio de Janeiro foi palco recentemente de uma ação integrada envolvendo esses principais atores, experiência que merece ser observada, estudada e replicada. Refiro-me ao Rio Cidade Sustentável implantado nos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme. Iniciado há dois anos e concluído recentemente, o Rio Cidade Sustentável é um projeto pioneiro de infraestrutura urbana e transformação social, com foco em sustentabilidade, destinado a comunidades de baixa renda, estejam elas localizadas em áreas de periferia das cidades ou espaços mais urbanizados, como foi o caso.
Trabalhamos conjuntamente em sete frentes, todas elas procurando contemplar as dimensões básicas da sustentabilidade – a econômica, a social, a ambiental e a cultural: melhoria habitacional sustentável; agricultura urbana orgânica; sustentabilidade nas escolas e nos lares; turismo comunitário; desenvolvimento de empreendedores locais; gestão comunitária de resíduos; e infraestrutura urbana verde.
O resultado obtido já justificaria a iniciativa. Na área de capacitação profissional, 93 moradores foram formados nos cursos de pedreiro, eletricista, bombeiro hidráulico e serralheiro; 16 estão capacitados a instalar e manter hortas em produção contínua em quintais e lajes; e 51 empreendedores locais foram formalizados, podendo agora emitir notas fiscais e obter crédito em instituições financeiras.
Na área de melhoria urbana e ambiental, foram construídos 700 metros de calçada de concreto com granulado de borracha, que proporciona maior resistência ao revestimento; e foram instalados sistemas de iluminação pública em LED, que garante uma economia de energia de 10% a 30%, e ecoponto para onde moradores levam lixo reciclável, estimulando a cultura da coleta seletiva de lixo. O envolvimento da comunidade foi reforçado com realização de oficinas e palestras na Escola Municipal Santo Tomás de Aquino, que tem mais de 600 alunos.
Contudo, o legado do projeto foi muito além da abertura de uma nova perspectiva de vida aos moradores das duas comunidades. Ao reunir, num só projeto, 12 grandes empresas de diferentes segmentos e até concorrentes de mercado, as três esferas governamentais e instituições sociais de diferentes áreas de atuação, sinalizamos que é possível trabalhar juntos, produzindo benefícios concretos para comunidades historicamente marginalizadas, para a vida das cidades, para a atividade econômica, para o meio ambiente e, enfim, para toda a sociedade.
Todos os envolvidos protagonizaram um processo de aprendizagem diferenciado, no qual o trabalho em grupo e as decisões multilaterais devem sempre prevalecer. Com base nessa experiência, daremos início agora ao BH Cidade Sustentável, certamente com uma possibilidade de sucesso bem maior.
Publicado em O Globo