A tarefa de alimentar mais de nove bilhões de pessoas em 2050, permitindo que possam se nutrir e viver bem sem esgotar os recursos do planeta exigirá transformações profundas do campo à mesa. Os desafios se somam: as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade trazem riscos à produção global de alimentos, ao mesmo tempo em que a alimentação saudável se vincula ao acesso à renda, de modo que reduzir as desigualdades sociais é premente.
Um olhar sobre onde estamos, aonde queremos chegar e quais os passos necessários nessa jornada é um exercício proposto pela Visão 2050, roteiro produzido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) com a participação de mais de 4 mil especialistas do setor privado, público e da academia. Dividido em oito temas centrais, o capítulo de Alimentos traz algumas pistas sobre as mudanças que
queremos fomentar.
Hoje sabemos que os sistemas alimentares contribuem com até 29% de todas as emissões de gases de efeito estufa e são extremamente vulneráveis às mudanças climáticas, devido à dependência do regime de chuvas e estabilidade do clima. Na questão da diversidade de espécies, atualmente 75% dos alimentos consumidos globalmente provêm de apenas 12 plantas e cinco espécies animais e, embora conheçamos entre 250 mil e 300 mil espécies de plantas, utilizamos somente 150 a 200, sendo que três delas (arroz, mandioca e trigo) representam 60% das proteínas obtidas pelos humanos a partir de plantas.
No Brasil, o imperativo para auxiliar na transição para sistemas alimentares resilientes é, em primeiro lugar, frear o desmatamento ilegal e apostar na agricultura de baixo carbono, que, graças aos esforços de pesquisa da Embrapa ao longo das últimas décadas, nos disponibiliza técnicas que permitem ao Brasil ter grande produtividade agrícola sem a necessidade de desmatar um só hectare de floresta. Além disso, a bússola aponta para a construção de cadeias de negócios que geram impacto positivo e regenerativo para nossa sociobiodiversidade. O Brasil poderá movimentar US$ 17 bilhões e gerar 2 milhões de empregos novos até 2030 com as soluções baseadas na natureza. A recém-aprovada política de Pagamento por Serviços Ambientais, que regra a remuneração para empresas e proprietários que preservam áreas de interesse ecológico, deve abrir o caminho para negócios com esse perfil também. Como setor privado, queremos avançar nessa trilha e já temos um mapa. O futuro já começou.
Artigo originalmente publicado em Radar Solos, maio de 2021.