Por Marina Grossi*
Eliminar a pobreza e reduzir a níveis toleráveis a desigualdade na distribuição de renda são metas que devem estar na agenda de prioridade máxima no Brasil e no mundo. A exclusão de milhões de famílias do mercado formal representa forte obstáculo para a construção de um modelo verdadeiramente sustentável.
Podemos ir além dos já reconhecidos projetos de transferência de renda promovidos pelos governos e ampliar em escala exponencial o impacto desses projetos, com o incremento da participação do setor empresarial, principal agente na geração de emprego e renda no Brasil e no mundo. Instrumentos para isso já existem.
Os programas de microfinanças – incluindo crédito, seguro e outros produtos do mercado financeiro para pequenos empreendedores, formais ou informais – estão entre as mais promissoras estratégias de combate à exclusão social na atualidade. Contudo, opera numa faixa de mercado ainda muito incipiente. No mundo, cerca de US$ 25 bilhões são aplicados por ano pelo setor de microfinanças. Essa quantia, suficiente para atender apenas 10% da demanda (pessoas economicamente ativas em microempreendimentos), é insignificante quando comparamos com os US$ 225 trilhões que o mercado financeiro global movimenta anualmente.
No Brasil, as carteiras de microfinanças operam com R$ 1,8 bilhão (ou US$ 540 milhões), patamar igualmente pequeno quando observamos nossa demanda reprimida. São 52,8 milhões de pessoas acima de 16 anos excluídas do mercado financeiro formal e 40% da nossa população vivendo na informalidade.
Essa vasta camada populacional no caso do Brasil os egressos do Bolsa Família e os que ocupam hoje as classes C, D e E – fica impossibilitada de crescer com segurança por não ter acesso a serviços financeiros. O microcrédito impulsiona os negócios e os microsseguros e microinvestimentos garantem a manutenção do patrimônio obtido. A parcela que vive com menos de três salários mínimos, que compreende mais de 80% do mercado brasileiro, seria o público das microfinanças, com destaque para as mulheres que hoje ocupam papel fundamental no sustento das famílias na base da pirâmide.
O microcrédito primeira modalidade das microfinanças começou a ser oferecido no Brasil no final da década de 90 por uma iniciativa pioneira do Banco do Nordeste, que teve o mérito de substituir, com sucesso, a filantropia por regras de mercado, cobrando taxas de juros e analisando riscos, mas de uma forma mais adequada ao público que não poderia fornecer as garantias tradicionais exigidas pelos bancos, como bens ou rendas relevantes.
Ao contrário das iniciativas filantrópicas, os programas de microfinanças geram benefícios para todos os atores envolvidos, a começar pelo empreendedor e seus vizinhos, já que 70″/-? da renda gerada pelos pequenos empreendimentos circulam dentro da comunidade em que vivem. Para as empresas, a prospecção desse novo negócio tem forte potencial de expansão, valoriza os ativos intangíveis das instituições financeiras, fortalece o mercado formal e o consumo de produtos e serviços. O setor governamental amplia sua receita com a geração de renda e aumenta sua capacidade de investir em programas de saneamento e recuperação ambiental, educação, mobilidade, segurança e tantas outras demandas.
O Banco Central deu um passo importante. Desde 2011 prevê direcionamento de no mínimo 2% dos saldos dos depósitos à vista captados pelas instituições financeiras para operações de crédito destinadas à população de baixa renda e a microempreendedores.Uma recente publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) “Microfinanças: microcrédito e microsseguros no Brasil o papel das instituições financeiras” – monta o cenário brasileiro e propõe o aprofundamento das discussões.
A partir disso, podemos traçar novas estratégicas para dar sustentabilidade financeira e, assim, viabilizar esse promissor e transformador modelo de negócio.
*Marina Grossi é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável)