A descarbonização precisa de biocombustível e o biocombustível precisa de mais aliados

Por Erasmo Carlos Battistella, CEO da BSBIOS

Senti uma grande honra em poder representar o setor de biocombustíveis brasileiro durante o Debate Temático de Alto Nível sobre Turismo e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável promovido pela Organização Mundial do Turismo (UNWTO), no último dia 4 de maio de 2022. Pela minha trajetória pessoal como empresário com mais de 20 anos de experiência e pela empresa que represento no Brasil, a BSBIOS, líder nacional na produção de biodiesel, com investimento inovadores na área de biocombustíveis avançados no Paraguai e agora também na Suíça, pudemos reforçar as contribuições concretas do setor em relação à Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável (2030 Agenda for Sustainable Development and the Sustainable Development Goals – SDGs) e que estão também totalmente vinculados atividade do Turismo.

Na abertura do evento, Abdulla Shahid, Presidente da 76ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), destacou a importância de se “construir um setor de turismo global mais sustentável, resiliente e responsável”. Para ele, “não devemos reiniciar o turismo global da maneira usual, devemos ser mais ambiciosos do que isso, mais responsáveis do que isso”. Os participantes do Diálogo foram incentivados por Shahid a aproveitar todas as oportunidades para transformar o setor de turismo e almejar uma abordagem mais sustentável, inclusiva e responsável. “Agora, é a hora de uma ação ousada e todas as ideias são bem-vindas”, completou.

Turismo como espaço para acelerar a transição

De acordo com o objetivo de desenvolvimento sustentável 7– Energia Limpa e Sustentável, como um setor intensivo em energia, o Turismo pode acelerar a mudança para o aumento da participação de energia renovável no mix global de energia. Ao promover investimentos em fontes de energia limpa, o Turismo pode ajudar a reduzir os gases de efeito estufa, mitigar as mudanças climáticas e contribuir para o acesso à energia para todos. Os biocombustíveis são uma solução imediata e pronta para proporcionar a transição para uma matriz energética limpa.

No caso do objetivo 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, o Turismo pode fazer avançar as infraestruturas e acessibilidades urbanas, promover a regeneração e preservar o património cultural e natural, ativos dos quais o Turismo depende. O investimento em infraestrutura de transporte mais eficiente, com redução da poluição do ar, deve resultar em cidades mais inteligentes e verdes, não apenas para os moradores, mas também para os turistas. Os biocombustíveis são uma solução para grandes cidades, no caso do transporte urbano e de carga, sem a necessidade de grandes investimentos em infraestrutura de transição.

Para a meta 13 – AÇÃO CLIMÁTICA, as partes interessadas no Turismo devem desempenhar um papel de liderança na resposta global às mudanças climáticas. Ao reduzir sua pegada de carbono, no setor de transporte e hospedagem, o Turismo pode se beneficiar de um crescimento de baixo carbono e ajudar a enfrentar um dos desafios mais prementes do nosso tempo. Os biocombustíveis são uma solução imediata para reduzir as emissões de carbono e garantir a preservação das belezas ambientais que motivam os turistas a viajar.

Seis meses se passaram desde a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática 2021 (COP26) em Glasgow. Todos nós que estávamos lá pudemos ver o empenho demonstrado pelos líderes mundiais para cumprir os compromissos para uma economia de Baixa emissão de carbono. E para isso, a mobilidade global, seja por ar, mar, rios, estradas ou ruas, tem um papel fundamental.

Hoje, já existe um combustível capaz de permitir a transição de energia de baixa emissão no transporte com baixo custo. Os biocombustíveis se enquadram perfeitamente neste senso de urgência do qual todos falamos para atingir as metas de descarbonização e estamos prontos e podemos reduzir as emissões em todos os modais de transporte.

Aeronaves ao redor do mundo já estão voando com SPK (Synthetic Paraffinic Kerosine, também conhecido como SAF). O setor visa atender as definições do CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation) e, para isso, os biocombustíveis avançados desempenharão um papel fundamental no alcance dessas metas de redução de GEE (gases de efeito estufa).

Mas além do SAF, o diesel renovável HVO (sigla em inglês para Hydrotreated Vegetable Oil) é um combustível de entrega imediata, que vai direto para o tanque. Ele pode ser utilizado 100% em motor diesel de um caminhão das décadas de 60 e 70, assim como nos motores de última geração desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos sem a necessidade de adaptações, ao contrário de algumas outras alternativas ao uso de petróleo, que exigem um alto investimento na criação de infraestrutura de abastecimento e na própria compra de um novo caminhão ou ônibus.

O fato de abastecerem diretamente o tanque sem a necessidade de adaptações do motor é uma diferença importante, pois torna o tamanho potencial do mercado muito maior do que o de um biodiesel tradicional, que costuma ser usado em uma mistura com o diesel fóssil.

O desenvolvimento do papel dos biocombustíveis no processo de descarbonização internacional está totalmente relacionado à mobilização de governos, organizações internacionais e muitos setores que precisam acelerar a transição energética em seus negócios. 

Conrado Clifford, vice-presidente e vice-diretor geral da International Air Transport Association (IATA), destacou durante o evento esse importante cenário: “Necessitamos de combustíveis sustentáveis, isso é chave para descarbonizar nossa indústria (aérea). O nosso problema é a emissão de carbono e a maneira de descarbonizar o setor aéreo é contar com um combustível sustentável. No momento, temos apenas 120 milhões de litros disponíveis (de SAF – Sustainable Aviation Fuel) no mundo, mas precisamos de 450 bilhões de litros. Temos essa brecha que precisamos preencher nos próximos 20 anos. Os governos vão precisar incentivar a produção desses combustíveis para que eles se tornem acessíveis”.

Os governos da Noruega e da Suécia promulgaram legislação para apoiar os biocombustíveis sustentáveis na aviação, enquanto a França está discutindo um mandato para sua introdução a curto prazo. Nos Estados Unidos e no Japão, já existem adoção voluntária e as grandes companhias aéreas vão utilizar o bioquerosene.

Como afirma o documento “Sustainable Aviation Fuel Policy Toolkit” do Clean Skies for Tomorrow (iniciativa de empresas e organizações de alta ambição que trabalham para descarbonizar a aviação global por meio de combustíveis de aviação sustentáveis e outras tecnologias de próxima geração), o fornecimento suficiente de biocombustíveis avançados requer produção, o que requer grandes investimentos, que por sua vez requerem estruturas regulatórias confiáveis e duradouras.

A indústria do biocombustível, especificamente, também é uma potência para o desenvolvimento sustentável e do chamado emprego verde.

No caso do biodiesel, no Brasil, dentro do contexto da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), o setor já realizou investimentos superiores a R$ 10 bilhões na última década e meia instalando um parque com 55 usinas, em 14 estados, em todas as regiões do país.

O biodiesel é um vetor de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e de interiorização do crescimento com inclusão direta de quase 300 mil pessoas ligadas à agricultura familiar. Em 2020, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mais de 74,2 mil famílias movimentaram R$ 5,9 bilhões com a venda de matéria-prima para produção de biodiesel.

A produção certificada por órgãos internacionais não avança sobre florestas ou áreas de preservação para ter acesso às matérias-primas. O mix de insumos utiliza também rejeitos de outros setores fabris, representando uma solução para passivos ambientais. 

Essa é uma batalha que requer o envolvimento de governos, organizações internacionais e muitos setores que precisam acelerar a transição energética em seus negócios. O biocombustível avançado precisa de aliados para que possa fornecer em grande escala suas soluções de descarbonização.

Mas, para que isso seja possível, precisamos de políticas públicas claras e estruturas regulatórias estáveis para atrair novos investimentos comprometidos em produzir um combustível que tornará a transição possível.

A solução existe – precisamos pavimentar o caminho para chegar até ela rapidamente. Com mais aliados e juntos, transformamos o mundo.

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