Amazônia em pauta 

Como o setor empresarial pode ajudar a proteger a Amazônia e contribuir para seu desenvolvimento, levando em conta que a região sofre com o segundo pior outubro dos últimos dez anos com queimadas e teve aumento em um ano de quase 35% em desmatamento ilegal? Para debater o problema e pensar em soluções, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS); Marcelo Thomé, coordenador do Fórum Mundial Amazônia+21; Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia; e Susy Yoshimura, diretora de Sustentabilidade e Compliance do GPA, participaram nesta terça-feira (3/10) de um webinar da Bússola, plataforma digital da revista Exame.  O debate foi mediado pelo diretor da Bússola, Rafael Lisbôa. 

Marcelo Thomé abriu o debate enfatizando a importância de se valorizar os aspectos sociais nesta jornada: “A agenda econômica precisa avançar junto, só assim iremos preservar o bioma. Daí a importância do processo de diálogo entre governos, empresas, academia, sociedade civil, ONGS. É assim que encontraremos um caminho para o desenvolvimento de negócios sustentáveis. E mais: terra que não tem dono é onde o ilícito acontece. O estado imputa responsabilidades.”

Já Marina Grossi, presidente do CEBDS, explicou as vantagens que o Brasil tem na retomada pós-pandemia, com uma economia mais verde, de baixo carbono.

“Fizemos um grande movimento em defesa da floresta amazônica junto com o setor empresarial e este caminho não tem volta. A sustentabilidade está acima da lei e permite que as empresas tenham mais longevidade, porque passam a ser mais resilientes, a incorporar aspectos sociais e ambientais e permitir visão de longo prazo. Este movimento, que começou como um comunicado, cresceu e se tornou uma agenda em defesa do desenvolvimento sustentável. Como disse Candido Bracher, CEO do Itaú, precisamos virar a página do desmatamento ilegal como viramos a página da inflação. Temos excelentes iniciativas empresariais na Amazônia, mas precisamos ir além.”

A presidente do CEBDS destacou algumas iniciativas de associadas ligadas à região: “Temos muitos exemplos, como a atuação histórica da Natura, que consegue obter cinco vezes mais lucro com uma árvore em pé do que se ela fosse cortada para exploração ilegal. A Coca-Cola, também nossa associada, gera 11 mil empregos e metade do guaraná utilizado pela companhia vêm da agricultura familiar de 12 municípios amazonenses, além de ser a única empresa de bebidas com guaraná do Amazonas 100% certificado. A Alcoa, em Juruti, no Oeste do Pará, mostra que é possível um empreendimento com desenvolvimento econômico e sustentável na região amazônica. A empresa firmou parcerias com o governo e a sociedade e desenvolveu uma proposta de modelo de desenvolvimento sustentável e criou o Fundo Juruti Sustentável (Funjus). A Alcoa fez investimentos em infraestruturas públicas de saúde, saneamento, educação, assistência social, segurança e Justiça de mais de R$ 9,5 milhões em iniciativas do Instituto Alcoa e Alcoa Foundation em Juruti e região.

Além dessas, a Ambev, uma das coordenadoras da Chamada de Negócios da Plataforma Parceiros Pela a Amazônia (PPA), recebeu no ano passado recebeu 201 inscrições na Chamada de Negócios. Essa  chamada é voltada aos empreendedores, startups, organizações, negócios de base comunitária, redes de pessoas/coletivos, instituições e empresas em estágio inicial voltados à conservação da floresta e dos recursos naturais, valorização da biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável na Amazônia.

“A maior parte do guaraná utilizado pela Ambev vem de microprodutores locais da Amazônia. Todos os anos, a empresa fornece gratuitamente mais de 40 mil mudas de guaraná para cerca de 2 mil microprodutores locais.  Além disso, as famílias que produzem o fruto recebem apoio e capacitação para um manejo sustentável de técnicos da empresa. A Ambev também fundou a Aliança Guaraná de Maués, que realiza treinamentos de técnicas sustentáveis, maior inclusão de mulheres e jovens e ainda promove a articulação de pais, governo e professores na elaboração e acompanhamento do currículo escolar.”

A Votorantim Cimentos, por sua vez, enxergou uma oportunidade interessante onde antes todos viam um problema: o descarte de caroço de açaí. “Cerca de 80% do açaí em massa é caroço, e ele acaba sendo descartado ao longo da cadeia produtiva. Estamos falando de 800 mil toneladas do caroço da fruta gerados apenas no estado do Pará sem descarte correto, gerando um enorme passivo ambiental. A Votorantim Cimentos desenvolveu um novo processo para substituir o coque, que é um combustível derivado do petróleo, pelo caroço do açaí e a fábrica da empresa, Primavera, processou 70 mil toneladas do caroço de açaí, deixando de consumir 30 mil toneladas de coque no ano. Somente essa iniciativa levou à redução da emissão de 75 mil toneladas/ano de CO2 (emissão direta). E mais de 150 mil toneladas/ano de CO2 equivalente foram evitadas como consequência da mudança do destino final do caroço.”

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