Quais as vantagens de promover maior diversidade e inclusão no ambiente corporativo? Quem ganha quando uma empresa importante abraça maior representatividade nas comunicações internas e externas? Muitas pesquisas indicam ganhos normalmente associados a maior capacidade competitiva, grande originalidade na solução de problemas e também aumento de produtividade.
A recente campanha publicitária de Dia dos Pais realizada pela Natura comprova que a inclusão e diversidade são vantagens competitivas para a marca, para a visão que os investidores possuem da empresa e para a relação da companhia com a opinião pública. Mas o cenário não é simples, nem trivial.
Ações que buscam a diversidade e inclusão enfrentam reações preconceituosas, de pessoas e grupos ainda apegados a questões que envergonham o nosso passado. Exemplo disso são tentativas de renegar espaços ou limitar o avanço de pessoas LGBTQIA+, principalmente homens e mulheres transexuais, pretos e pessoas fora do padrão imposto pela sociedade, como obesos e idosos. Isso resulta num processo de marginalização que precisa acabar.
Na campanha da Natura, o ator transexual Thammy Miranda expõe essa marginalização tornando-se um dos principais tópicos de discussão nas redes sociais nos últimos dias. A publicidade – representativa para uma parcela da sociedade – gerou reações conflitantes por escalar um homem transexual como protagonista. Além da presença do ator na propaganda, a ação “Meu pai presente” também conta com outros influenciadores, como o ator Babu Santana e o chef de cozinha Henrique Fogaça, que ficaram de coadjuvantes diante da repercussão.
O episódio mostra que reunir diferentes pensamentos, culturas, etnias, opiniões e deficiências torna as empresas mais plurais, democráticas.
E lucrativas.
Enquanto a companhia acumulava elogios, críticas e ameaças de boicote nas redes sociais, as ações da empresa fecharam em alta de 6,73%, a R$ 47,09, a maior variação positiva entre todos papéis que compõem o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Trata-se de mais do que um sinal claro dos investidores de que promover a diversidade é um bom negócio: os investidores premiaram a empresa, elevando seu valor de mercado, apostando que os próximos balanços trarão resultados melhores.
Até o momento, nada indica que a campanha “#EuNãoComproNatura”, que adquire um caráter transfóbico por se tratar de uma reação ao anúncio, tenha gerado a “perda de milhões” como compartilhado por meio de notícias falsas – verificadas e desmentidas pela Agência Lupa..
Segundo Thammy, a intenção não é “lacrar” e sim representar. “Represento 12 milhões de mulheres que são mães solteiras e 5,5 milhões de crianças que não têm o nome do pai na certidão de nascimento”, afirmou o ator em entrevista ao UOL.
A Natura tem respondido às críticas afirmando ter orgulho de ser a marca que está do lado de todas as formas de ser e amar.
“Temos um time diverso de influenciadores, representados por homens cis e trans. Convidamos o Thammy Miranda para estar com a gente neste Dia dos Pais para mostrar que a presença é o maior presente”. Em nota, a assessoria diz que a empresa “acredita na diversidade. A Natura celebra todas as maneiras de ser homem, livre de estereótipos e preconceitos, e acredita que essa masculinidade, quando encontra a paternidade, transforma relações.”.
Diversidade e sustentabilidade devem caminhar juntas
Os negócios sustentáveis são aqueles que alinham o desenvolvimento econômico com a preocupação com as pessoas e o futuro do planeta. Empresas devem atuar causando impacto positivo no meio ambiente e também na vida das pessoas.
“Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, 13 falam direta ou indiretamente de impacto social, tamanha a sua importância. A diversidade e a sustentabilidade são indissociáveis. Isso é bom para os negócios! Nosso desafio será pensar em como tornar os espaços corporativos cada vez mais inclusivos” , enfatiza a presidente do CEBDS, Marina Grossi. Alguns cases de diversidade e inclusão podem ser conferidos na publicação “Quebrando Muros e Construindo Pontes”, feita pelo CEBDS.
A percepção sobre as empresas está muito relacionada à maneira como ela se posiciona. O World Economic Forum (WEF) destaca a relação de conscientização dos consumidores e a escolha responsável pela marca que consomem. A maioria dos consumidores, por exemplo, afirma que poderia boicotar uma marca com base em sua posição em uma questão social ou política, por exemplo.
À mesma conclusão chegou uma pesquisa com jornalistas feita para o Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS: espera-se que empresas se posicionem em temas relevantes para a sociedade. Quem não se posiciona, perde espaço nos meios de comunicação e junto aos consumidores.
Outro ponto destacado pelo relatório do WEF é a postura interna da organização. Quando os funcionários não se sentem apoiados no trabalho, a criatividade e a inovação sofrem. Da mesma maneira, a discriminação no local de trabalho pode prejudicar a saúde dos funcionários e a produtividade de uma organização.
Para Marina Grossi é necessário ampliar a diversidade e a representatividade de grupos minorizados e das maiorias invisibilizadas, como mulheres e negros, nos âmbitos de tomada de decisão. Uma das propostas defendidas pelo CEBDS na sua agenda de proposições para políticas públicas é que o Portal da Transparência do Governo Federal divulgue a porcentagem de mulheres e negros em cargos de liderança em estatais e órgãos do Poder Público, de forma a dar mais transparência aos dados e incentivar a diversidade no setor privado.
“Estamos olhando para o futuro, pensando em como queremos chegar a 2050. E ainda discutimos problemas referentes ao século passado. Temos que dar voz para as pessoas mais vulneráveis. Temos que mostrar para a menina preta na comunidade, para a mulher transexual, que ela será aceita em todos os lugares e que elas podem ser CEO de uma companhia. Isso é representatividade”, defende.
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