Especialistas debatem diretrizes de valoração para o setor de alimentos

A pandemia da Covid-19 acelerou o senso de urgência para a adoção de práticas mais sustentáveis para o setor de alimentos. Como consequência, a complexidade de se fornecer alimentos com qualidade nutricional, acessíveis e com respeito aos limites do planeta, para uma população mundial projetada de 10,9 bilhões de pessoas até 2050, se tornou ainda maior. Principalmente para o Brasil que, além de ser um dos maiores produtores mundiais de alimentos, tem uma dependência da exportação de produtos agropecuários, que responde por 42% da balança comercial.

Esses foram alguns dos temas abordados durante a mesa redonda realizada pelo projeto A Economia do Ecossistema e da Biodiversidade para Agricultura e Alimentos (TEEBAgriFood), em 21 e 23 de julho. Liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a  TEEBAgriFood tem como objetivo integrar os valores da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos na tomada de decisões em todos os níveis.

A realização do encontro virtual foi resultado de parceria entre o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a Capitals Coalition, com apoio da União Europeia. O objetivo foi reunir contribuições de especialistas no setor de alimentos e de representantes de empresas para a elaboração de um conjunto de diretrizes destinadas à avaliação dos capitais natural, humano e social fundamentais ao setor brasileiro de alimentos. Dessa forma, o documento busca propor orientações de práticas mais sustentáveis para o processo de tomada de decisões pelas empresas.

Produzir mais alimentos em áreas menores

Durante o debate, o pesquisador da Embrapa Renato Rodrigues avaliou que a intensificação sustentável na produção permite aumentar a produção exponencialmente. “A produção de grãos cresceu 400% nos últimos 40 anos com um acréscimo de 60% na área. A ideia é produzir mais em uma área menor e liberar a terra para outros fins, como reflorestamento, por exemplo. Estamos entrando no que vai ser a década mais verde. É um caminho sem volta e até 2030 teremos toda uma agenda verde como prioridade”.

A valoração dos serviços ambientais é uma das possibilidades de transformação dos sistemas alimentares, considerando a complexidade da agricultura brasileira. O diretor executivo do IPAM, André Guimarães, lembrou que mais de 90% da agricultura nacional não é irrigada, além do país ser um dos únicos que consegue de duas a três safras anuais, em virtude das condições climáticas do Brasil. O desafio, observou Guimarães, é tornar os serviços ambientais em uma vantagem competitiva. “Precisamos remunerar ou incorporar esses serviços ambientais que tornam a agricultura tão vigorosa”.

Guimarães observou que os modelos atuais de produção precisam se adequar a essas mudanças que reforçam a sustentabilidade como um bom negócio. “Precisamos de novos modelos de produção mais adequados a essas novas demandas da sociedade. Temos a oportunidade de reconstruir a nossa economia, em um movimento análogo ao pós-guerra, com foco em infraestrutura e políticas sociais. É uma oportunidade de revistar nossas prioridades e investir em modelos produtivos que priorizem uma produção mais sustentável”, destacou.

Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Peter May, um dos caminhos é a recuperação de pastagens degradadas. No país, mais de 90 milhões de hectares de pastagens estão abaixo da sua capacidade produtiva. “Pensar na restauração dos sistemas agropecuários é uma ideia simples. Esse movimento agrega valor à terra e às populações, além de garantir que o uso do solo seja mais sustentável e forneça serviços ambientais na totalidade da sua capacidade”, defendeu.

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