“Para o setor empresarial, preservar e produzir é uma realidade factível. A transição para uma nova economia faz parte dos objetivos das empresas para a Amazônia. Estamos falando de uma agenda que é de Estado e, portanto, apartidária.”
Foi com essa fala que Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), abriu o “Webinário: O Setor Empresarial na Amazônia”, realizado no último dia 5 de setembro – o Dia da Amazônia. O evento virtual mostrou que o setor privado está ciente da sua responsabilidade. Os casos apresentados, de empresas que estão contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades que vivem na floresta e da floresta, mostram que a retórica ficou no passado. E, hoje, existem exemplos interessantes para serem mostrados.
“A pauta central é que, apesar de tudo que vem sendo feito na Amazônia, e temos momentos melhores e outros piores, a resultante representa ainda um passivo em relação ao mundo”, afirma Hugo Barreto, diretor de Investimento Social, diretor-presidente do Fundo Vale e diretor-presidente do Instituto Cultural Vale. “Por isso, tem que se engajar. Não é apenas uma questão de agenda de responsabilidade corporativa, mas também de sustentabilidade de longo prazo dos negócios”, afirma o executivo.
Do ponto de vista prático, segundo Hugo, a Vale, há mais de 35 anos, ajuda a proteger o mosaico de Carajás. Por volta de 60% da produção da companhia é feita a partir de um modelo sustentável. As áreas de operação da empresa no Pará, para a extração do minério da maior mina a céu aberto do mundo, ocupam menos de 2% do mosaico das áreas de preservação ambiental, informa Hugo.
Segundo o executivo, apesar dos desafios, existe uma visão clara de desenvolvimento sustentável na empresa. Que passa, entre vários outros itens, pelo respeito e promoção dos direitos e da cultura dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, além do apoio ao combate ao desmatamento ilegal e ao garimpo ilegal.
A Vale, ratifica Hugo, não detém mais direitos minerários em terras indígenas e nem minera nesses territórios. “A questão envolve o saber fazer. E, para isso, os caminhos possíveis passam pela potencialização da expertise de quem atua e conhece a região, além da parceria entre os vários setores”, diz o executivo da mineradora.
Raciocínio semelhante ao implementado pela empresa Dow, no município de Breu Branco (PA). A região recebe uma das operações de produção de silício metálico da companhia, que utiliza, entre as fontes de matéria-prima, a madeira do eucalipto. “Na área de 45 mil hectares, temos 20% com eucaliptos plantados e outros 80% de floresta nativa”, afirma Ana Carolina Felix, diretora de Sustentabilidade para as Américas para o Negócio de Soluções de Consumo da Dow.
É nesta floresta nativa, explica a executiva, que foi montado o projeto Ybá, em conjunto com a Natura. Por volta de 25 comunidades podem acessar as áreas de mata para coletar as sementes de andiroba. O que dá início a uma cadeia de produção que culmina com o uso da matéria-prima em produtos da indústria de cosméticos. “Esse é o modelo de bioeconomia que mantém a floresta em pé. Um estudo feito pelo Instituto Peabiru, nosso parceiro, mostrou a ocorrência de 17 espécies de potencial comercial na região. A andiroba é apenas a primeira”, afirma Ana Carolina.
Dentro da estratégia de gerar impacto socioambiental da Suzano, como também foi apresentado durante o Webinário, nasceu no Maranhão o projeto Pindowa, nos arredores da planta de produção de celulose que a empresa tem em Imperatriz.
Nas áreas protegidas da empresa, aproximadamente um terço dos 2 milhões de hectares, criou-se um programa de extrativismo sustentável que beneficia 1.880 pessoas. As famílias, inclusive, criaram uma cooperativa para a comercialização de sabonetes a partir do processamento do babaçu que existe na região. “E uma das preocupações, neste caso, também envolve a fixação dos jovens na região”, explica Giordano Automare, gerente executivo de Desenvolvimento Social da Suzano.
O Movimento Empresarial pela Amazônia
Os três exemplos apresentados mostram a sintonia que existe entre os participantes do Movimento Empresarial pela Amazônia, criado pelo CEBDS em 2021. O principal objetivo da iniciativa é construir uma agenda efetiva em defesa do desenvolvimento sustentável, da criação de emprego e renda com a floresta em pé e da redução do desmatamento, que representa 43% de nossas emissões de gases de efeito estufa. O Movimento engaja líderes e empresas no tema e constrói sinergias entre o setor produtivo para encontrar possibilidades convergentes de atuação, que tragam impacto positivo efetivo.
Com o movimento, o CEBDS e suas associadas buscam manter também interlocução direta com diversas instituições e representantes dos Três Poderes para a construção de soluções sustentáveis para a Amazônia.
Uma das mais recentes e importantes iniciativas foi a Imersão de CEOs na Amazônia. Promovida em agosto pelo CEBDS, dentro do Movimento Empresarial pela Amazônia, foi a maior reunião de líderes de grandes empresas para vivenciar a realidade da floresta. A experiência trará potentes inspirações rumo a uma nova forma de fazer negócios no bioma.
A íntegra do evento pode ser conferida aqui: https://youtu.be/v_ANOHLXJcc.