Saneamento para todos só em 2053?

Por Marina Grossi

A última edição da pesquisa do Instituto Trata Brasil revelou que 61,52% do volume de esgoto gerado nas cem maiores cidades brasileiras não recebe tratamento adequado. Traduzindo, as cidades com mais de 300 mil habitantes despejam diariamente 3,2 bilhões de metros cúbicos de esgoto, o equivalente a 3.500 piscinas olímpicas. Além de alertar a sociedade para números expressivos e inaceitáveis, as pesquisas do Trata Brasil indicam que caminhamos lentamente rumo à meta de universalizar a distribuição de água potável e de coleta e tratamento de esgoto.

Seja do ponto de vista econômico ou socioambiental, além do compromisso ético, argumentos não faltam para que a sociedade dê prioridade ao saneamento básico. O despejo de bilhões de litros de esgoto sem tratamento no meio ambiente, contaminado lençóis freáticos, rios, lagos, manguezais e as áreas mais ricas em biodiversidade dos mares, provoca perdas de ativos ambientais, produzindo impactos indesejáveis no plano social e econômico queda na atividade pesqueira e no turismo, incidência de doenças de veiculação hídrica e aumento dos custos com adição de produtos químicos nas estações de captação e tratamento de água, entre outras consequências.

Estima-se que 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades por ano devido a problemas gastrointestinais. As crianças que moram em locais sem saneamento básico têm, em média, um aproveitamento escolar 18 7o abaixo das que vivem em regiões salubres. Sem considerar a queda de produção por horas não trabalhadas e a perda com a queda do rendimento escolar.

Os benefícios econômicos e sociais do investimento em saneamento vão além da redução das perdas citadas. Para cada R$ 1 milhão investido em obras de esgoto sanitário, são gerados 30 empregos diretos e 20 indiretos, sem contar com a demanda por mão de obra quando o sistema entra em operação. O esforço de especialistas para quantificar concretamente os benefícios do investimento em saneamento deve servir de estímulo para mudar o comportamento de políticos e mobilizar a sociedade para o tema. A excessiva concentração dos projetos de execução de obras de saneamento no setor governamental é, certamente, uma das mais relevantes razões para caminharmos tão lentamente em direção à meta de universalizar o serviço.

De acordo com estimativa do Plano Nacional de Saneamento Básico, teremos que investir R$ 302 bilhões até 2033 para atingirmos a meta. Contudo, a média de investimento anual tem se mantido entre R$ 15 bilhões e R$ 16 bilhões, o que corresponde à metade dos recursos necessários. Há também problemas de gestão. Estudo do Trata Brasil, que acompanha a execução de 138 grandes projetos de saneamento em municípios com mais de 500 mil habitantes, constata que apenas 147o das obras foram concluídas até dezembro de 2012.

Se somarmos a média baixa de investimento à morosidade na execução dos projetos, corremos o risco de comprometer seriamente o prazo para atingirmos a meta proposta no plano nacional. É preciso e possível encontrar mecanismos legais e políticos que permitam uma participação maior do setor empresarial e de instituições civis nesse processo. Esses novos parceiros poderão disponibilizar tecnologia, investimento e capacidade de mobilizar a sociedade. Estima-se que poderíamos levar 40 anos ou mais para que todos os brasileiros tenham acesso ao saneamento, 20 anos mais do que os atuais planos do governo.

Fonte: Brasil Econômico

 

 

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