União de setor privado e comunidades locais é destaque em encontro sobre investimentos na Amazônia

Caminhos para o desenvolvimento de uma nova economia da floresta foram o foco no 2º Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia

São muitas amazônias, com vários caminhos para o desenvolvimento da região. O que não significa que as comunidades tradicionais e as articulações que passam pelo setor privado não devem estar presentes em todos eles. Se inovação e tecnologia também surgirem de mãos dadas ao longo do percurso, a conquista dos objetivos voltados para a preservação ambiental estará mais perto. 

Dentro desse contexto, visões estratégicas modernas, como as que estiveram sob foco nas sessões do 2º FIINSA, o Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia, realizado no fim de novembro, são essenciais. “Temos um sonho grande para a Amazônia, e isso só se dá quando nos juntamos com pessoas diversas e os atores locais assumem o protagonismo do enfrentamento dos desafios da região. A Amazônia é a maior oportunidade para o Brasil criar um modelo de negócio sustentável, e isso só é possível por meio da inclusão social e do desenvolvimento econômico. Não existe agenda verde sem melhoria da qualidade de vida das pessoas”, afirmou Guilherme Leal, co-fundador e co-presidente do conselho da Natura & Co, durante a abertura do Festival realizado em Manaus.

Exemplos reais, como o descrito também durante o evento por Juma Xipaia, cacica da aldeia Kaarimã e empreendedora social, encaixam como uma luva bem ajustada. A moradora da Amazônia citou o caso das comunidades da Terra do Meio, que participam ativamente do início ao fim do processo empreendedor. “Somos donos do próprio negócio. Não basta envolver, é preciso ter participação direta das comunidades tradicionais. Não somos objetos de pesquisa e comercialização, temos total capacidade de entender e empreender”, ressaltou Juma durante o painel “Visão de futuro para a Amazônia e para o Brasil”. Em 2020, ela criou o Instituto Juma, que busca proteger a floresta, o patrimônio cultural, a propriedade intelectual e os territórios dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia brasileira. “Temos a Amazônia viva porque existem povos diversos que vivem nela e a defendem com suas próprias vidas. Esse é o futuro que sonhamos, uma Amazônia viva com suas culturas e saberes”, afirma a liderança. 

Para que isso seja obtido, além da participação cada vez mais ativa das várias comunidades tradicionais, das várias amazônias, é preciso que ocorra a participação do setor privado, como ressalta Karina Simão, consultora responsável pela Agenda de Amazônia  no CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). “Um dos principais focos do evento foi o debate sobre como é necessário customizar  quando se trata do bioma Amazônico, incluindo desde mecanismos de financiamento para os projetos, adequação de escopo de atuação das empresas para realmente valorizar a sociobiodiversidade, entre outros requisitos”, afirma a especialista socioambiental.

Nesse sentido, o CEBDS apresentou no evento o “Estudo de Boas Práticas Empresariais na Amazônia”, promovido em parceria com o Idesam (Instituto de Desenvolvimento da Amazônia). O trabalho foi mostrado no painel “Atuação de grandes empresas e as pautas ESG/Investimento social privado na Amazônia”, que contou com a participação da Natura destacando duas iniciativas no bioma.

O estudo aponta caminhos e oportunidades para um maior engajamento em práticas sustentáveis na região. No documento são apresentadas iniciativas que enfrentaram os desafios típicos da Amazônia – que precisaram se reinventar, se adaptar e que, por isso, são escaláveis e podem ser aplicadas em diferentes contextos de atuação. São negócios como restauração de áreas degradadas, capacitação profissional, desenvolvimento de startups, agricultura sustentável e de maior produtividade, bioeconomia, inteligência artificial na prevenção ao desmatamento e extrativismo.

Vários representantes do setor empresarial, desde startups até grandes grupos, como a Michelin, estiveram presentes nas sessões de conversa tentando ajustar os caminhos que serão trilhados por quem pretende desenvolver a floresta com qualidade de vida. “Estamos numa região de superlativos, em um dos maiores patrimônios da humanidade, mas que infelizmente não gera dividendos para quem vive aqui”, comentou o painelista Denis Minev, diretor-presidente da Bemol, um dos empresários da região que mais abraçam a causa do desenvolvimento sustentável amazônico. “Isso se dá pelo baixo grau de desenvolvimento dos nossos ‘cérebros’. Não foi investido aqui [na Amazônia]. Ninguém se desenvolve sem produtividade, e essa produtividade vem do empreendedorismo. É inspirador que tantos empreendedores estejam aqui. Meu sonho para a Amazônia é que esse futuro, que todos sabemos ser possível, não precise aguardar até 2100 para acontecer”, completou Minev.

Por causa da pandemia, houve uma interrupção na realização do Festival, que tende a ser periódico. A primeira versão do FIINSA havia sido realizada em 2018. O evento reuniu mais de 250 pessoas. Foram investidos R$ 1,1 milhão em quatro negócios de impacto durante a rodada de investimentos. O grande objetivo do Festival é proporcionar diferentes espaços de conexão e colaboração por meio das sessões técnicas e atividades paralelas programadas pela organização do Festival. “O que diferencia o FIINSA é realmente mostrar, além de promover painéis de altíssimo nível no coração da Amazônia, o que de fato está acontecendo e quais são os caminhos para construir essa nova economia [da sustentabilidade]”, analisa Juliana Teles, cofundadora do Impact Hub Manaus – instituição organizadora do evento ao lado do Idesam e da aceleradora de projetos Amaz.

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