O CEBDS junto ao setor empresarial está empenhado em construir soluções sustentáveis para a cadeia do agronegócio, desde a produção até o consumidor final. Principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) no país e uma das mais impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas, a cadeia da agroindústria tem pela frente o gigante desafio de conciliar medidas de mitigação de GEE com o aumento da produção e oferta de alimentos para a população. Problemas fitossanitários, mudança na geografia dos cultivos, eventos extremos, como secas e tempestades, perda de polinizadores e mudanças abruptas do regime hídrico, são alguns dos efeitos práticos e locais das mudanças climáticas.
As mudanças climáticas representam um desafio sem precedentes para os governos, setor privado, academia e sociedade civil. O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) foi taxativo: “mudanças sem precedentes” são necessárias para limitar o aumento médio da temperatura global da superfície terrestre a 1,5 graus Celsius. de Sistemas Resilientes de Alimentos, realizado no dia 27 de junho, em São Paulo, e que reuniu representantes de diversos elos da cadeia produtiva de alimentos.
Os riscos são alarmantes para a sobrevivência do agronegócio brasileiro. Nesse contexto, que a princípio soa desanimador, novas iniciativas buscam promover a inserção da inteligência climática, ou seja, como tornar o setor mais resiliente a mudanças climáticas, no setor de agricultura e alimentos com objetivo de aumentar em 50% a disponibilidade de alimentos nutritivos enquanto reduz em 50% as emissões de GEE.
O que é Inteligência Agroclimática?
Coordenada pelo CEBDS, a Inteligência Agroclimática (IAC) promove uma adaptação das culturas frente às mudanças climáticas e busca reduzir as emissões de GEE, ao mesmo tempo em que desenvolve a resiliência e aumenta produtividade. É necessário garantir alimentos nutritivos para uma população crescente de mercados globais e hábitos pouco sustentáveis. Sendo assim, não apenas é necessário aumentar a produtividade, mas também reduzir perdas e desperdícios após a colheita, promover uma mudança de hábitos, repensar quadros regulatórios e incentivos econômicos, desenvolver uma base produtiva que gere impacto ambiental e social positivo e construir uma cadeia de valor para novos produtos da bioeconomia. Muito além do compromisso de reduzir as emissões da cadeia de alimentos, o CEBDS quer construir uma visão estratégica que desenvolva maior resiliência para o sistema.
ONU pede mudanças na produção
Com a previsão de que a população mundial chegue a quase 10 bilhões em 2050, um novo relatório da ONU aponta que o sistema global de alimentos deve passar por mudanças urgentes para garantir que haja comida adequada para todos, sem destruir o planeta.
O “Relatório de Recursos Mundiais: Criando um Futuro Alimentar Sustentável” revela que enfrentar esse desafio exigirá o fechamento de três lacunas: uma “lacuna alimentar” de 56% entre o que foi produzido em 2010 e os alimentos que serão necessários em 2050; uma “lacuna de terra” de quase 600 milhões de hectares entre a área agrícola global em 2010 e a expectativa de expansão agrícola até 2050; e um “gap de mitigação de gases de efeito estufa” de 11 gigatoneladas entre as emissões esperadas da agricultura em 2050 e o nível necessário para atender o Acordo de Paris para o clima.
O documento foi Produzido pelo World Resources Institute em parceria com Banco Mundial, ONU Meio Ambiente, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e agências francesas de pesquisa agrícola CIRAD e INRA. O relatório apresenta soluções para reformular a forma como o mundo produz e consome alimentos de forma a garantir uma sustentabilidade para o sistema alimentar até 2050.
O relatório solicita ajustes significativos na produção de alimentos, bem como mudanças no consumo da população. As ações vão desde o manejo da pesca silvestre até a quantidade de carne a ser consumida. Fornece aos formuladores de políticas, empresas e pesquisadores um roteiro abrangente sobre como criar um sistema alimentar sustentável da fazenda até o prato.
“Milhões de agricultores, empresas, consumidores e todos os governos do planeta terão que fazer mudanças para enfrentar o desafio alimentar global. Em todos os níveis, o sistema alimentar deve estar vinculado a estratégias climáticas, bem como proteções do ecossistema e prosperidade econômica”, disse Andrew Steer, presidente e CEO do World Resources Institute. “Embora a escala do desafio seja maior do que se imagina, as soluções que identificamos têm um potencial maior do que muitos imaginam. Há razão para ter esperanças de que podemos alcançar um futuro sustentável em alimentos”.
“A oportunidade de transformar o sistema alimentar não deve ser ignorada. Recompensar os fazendeiros por produzir alimentos mais diversificados e nutritivos de uma maneira muito mais sustentável ajudará a aumentar sua renda e criar empregos, construir sociedades mais saudáveis, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e apoiar a recuperação dos serviços ecossistêmicos essenciais”, disse Laura Tuck, vice-presidente de Desenvolvimento Sustentável no Banco Mundial.
“A tecnologia será uma das chaves para o sucesso futuro do sistema alimentar. Não há potencial realista para criar um futuro sustentável de alimentos sem grandes inovações”, disse Tim Searchinger, pesquisador sênior do WRI e principal autor do relatório. “Precisamos de mais financiamento para pesquisa e desenvolvimento e regulamentação flexível para incentivar o setor privado a inovar”.
“O chamado à ação desse relatório pode ser resumido em três palavras: produzir, proteger e prosperar. Estes não são interesses concorrentes”, disse Achim Steiner, administrador do PNUD. “É possível produzir mais alimentos com a mesma quantidade de terra agrícola de hoje, proteger os ecossistemas e fazer isso de uma maneira que garanta que os agricultores e outros possam prosperar. Criar um futuro de comida sustentável não será fácil, mas pode ser feito.”
O novo relatório contém as conclusões completas que sustentam a síntese da criação de um futuro alimentar sustentável, que foi lançado em dezembro de 2018 na COP24 na Polônia. Confira o relatório completo aqui.