Ascensão dos critérios ESG estimula a criação de empregos verdes, novas funções executivas e critérios de remuneração atrelados ao cumprimento de metas sustentáveis
Há pouco tempo, sustentabilidade não colocava ninguém na cadeira de CEO, mas tinha o poder de tirar, especialmente em um contexto de crise ou escândalo. Com a ascensão dos critérios ESG na tomada de decisões, contudo, esse cenário está mudando: investidores e consumidores passaram a pressionar as companhias em relação a um olhar mais atento para os aspectos sociais, ambientais e de governança das companhias. Executivos e líderes que vestem a camisa da sustentabilidade, bônus atrelados ao cumprimento de metas ESG e Conselhos de Administração com maior diversidade de gênero, etnia, origem e orientação sexual são indicativos de que o mundo corporativo está, de fato, vivendo uma transição.
Um exemplo vem da Boeing. A gigante americana do segmento aeroespacial criou, em setembro de 2020, o cargo de CSO, ou executivo-chefe de sustentabilidade, na sigla em inglês. O vice-presidente Chris Raymond, que assumiu o cargo, lançou metas arrojadas para a companhia, entre elas o compromisso com a produção de aeronaves que possam voar com 100% de combustíveis de aviação sustentáveis, que incluem biocombustíveis de origem vegetal ou produzidos a partir de resíduos, até 2030. No mundo, 3% do total de emissões de gases de efeito estufa provém do setor de aviação.
Quando se analisam os critérios para a remuneração de executivos, a tendência de se bonificar o atendimento a metas ESG vem sendo captada por diversos estudos. Pesquisa da consultoria Willis Towers Watson realizada com 168 empresas americanas em dezembro de 2020 mostrou que 65% planejavam atrelar as prioridades da agenda ESG à remuneração de suas lideranças em 2021. No Brasil, grandes empresas de diferentes setores adotam esse precedente, com metas relacionadas especialmente às mudanças climáticas e ao aumento da diversidade nas companhias.
À medida que o mundo caminha para a transição para a economia de baixo carbono, o potencial de geração dos chamados empregos verdes se mostra cada vez mais eloquente. Um estudo realizado em 47 países pela consultoria EY-Parthenon, a pedido da European Climate Foundation*, demonstra que, só na área de energia, 13 mil projetos de energia renováveis prontos a serem iniciados têm potencial para gerar 10 milhões de empregos diretos ou na cadeia de fornecimento. Desses, 600 mil podem ser gerados no Brasil, país que já tem vocação natural para as fontes renováveis. Segundo o estudo, esses projetos podem estimular a recuperação econômica no pós-pandemia, injetando cerca de US$ 2 trilhões em oportunidades de investimento em todo o mundo.
Com recursos naturais abundantes, a maior biodiversidade do planeta e capital humano igualmente diverso, o Brasil tem todas as ferramentas para ser uma liderança nessa nova economia assentada sobre padrões ESG. No CEBDS, temos reforçado o potencial das soluções baseadas na natureza, que poderiam entregar 37% da redução de emissões necessárias até 2030 para evitar um aquecimento global de 2ºC – o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), lançado no início de agosto, mostrou que os esforços terão de ser acelerados e concentrados nesses próximos anos, sob o risco de o mundo não cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris. Precisamos transformar nossas vantagens comparativas em vantagens competitivas, o que inclui orientar e capacitar nossa força de trabalho para essa nova realidade, gerando empregos de qualidade, inclusão social e uma economia mais resiliente.
Por Marina Grossi
Presidente do CEBDS