Bem-estar deve ser a tônica do capitalista

Representantes de empresas, governos e sociedade civil se mobilizam para mudar indicador tradicional que mede crescimento dos países

Por Marina Grossi

O que não pode ser medido, não pode ser gerenciado. Essa máxima do meio empresarial começa a ser estendida para áreas bem menos cartesianas. O desafio que se apresenta é o de construir indicadores para mensurar o bem-estar, visando a um aumento da felicidade das pessoas. Ano passado, às vésperas da Rio+20, o Banco Itaú lançou seu índice de Bem-Estar Social, que reúne uma série de indicadores econômicos e sociais, incluindo inflação, desemprego, expectativa de vida e desigualdade. O índice ainda precisa considerar variáveis importantes para avaliar bem-estar dos brasileiros, mas a preocupação aponta para um novo caminho, impensável há poucos anos.

Embora isolada, a inciativa ilustra um movimento mundial de empresas, governos e sociedade civil que atuam no sentido de substituir o Produto Interno Bruto (PIB) por um indicador que represente melhor o aumento ou a redução do bem-estar de uma população. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que serão adotados a partir de 2015, já sinalizam esta preocupação.

O momento é oportuno. Em um ambiente de crise econômica global, é possível repensar o papel messiânico que o crescimento do PIB tem no planejamento e no futuro da sociedade. O questionamento nos leva à compreensão de que é preciso repensar novos parâmetros que reflitam as reais fontes de felicidade de um povo. E nas empresas, a adoção de indicadores de desempenho capazes de ampliar suas estratégias a um caminho de promoção de bem-estar efetivo, tanto na sociedade em que atua, quanto na relação com seus funcionários e fornecedores.

No início desse século, o psicólogo americano David Myers fez essa reflexão e concluiu que, ao contrário do senso comum, o crescimento econômico não provoca um aumento da felicidade da população. Segundo ele, a despeito da sociedade americana ter dobrado sua riqueza em 40 anos, o número de pessoas felizes teve um ligeiro declínio – cresceu os índices de divórcio, suicídio adolescente, depressão e crimes violentos.

No Brasil, o custo econômico ainda domina o escopo dos programas sociais, sem uma abordagem holística. Recentemente, o governo Federal anunciou a ampliação do programa Brasil sem Miséria, com a meta de retirar da pobreza extrema mais de 2,5 milhões de pessoas. Nesse programa, o governo adota somente o indicador monetário (renda de até R$ 70,00 por mês) para definir pessoas extremamente pobres, sem considerar elementos fundamentais, como acesso à saúde, habitação, educação e segurança.

Essa nova visão está presente em diversos ambientes, inclusive no empresarial. Foi-se o tempo em que uma empresa vendia somente produto e serviço. Hoje, ela vende imagem, conceito e benefícios atrelados à marca. Uma empresa com visão sistêmica sabe que a sua relação com o consumidor, o meio ambiente e a sociedade não pode ser inconseqüente. A idéia é criar um ambiente auspicioso.

Grandes empresas já se movimentam em escala mundial. A Natura e a Itaipu, por exemplo, já começaram a implementar experiências locais inspiradas na Felicidade Interna Bruta do Butão, pequeno país asiático. Esse vanguardismo empresarial certamente contribuirá para o desenho de novos indicadores de bem-estar social mundial. Espera-se que os ODS demonstrem essa preocupação ao buscar índices para mensurar novos padrões de produção e consumo a partir de 2015. Entre os grupos que pensam os ODS vale destacar Paul Polman, CEO da Unilever, e Peter Bakker, presidente do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, sigla em inglês, rede mundial do qual o Cebds é uma das instituições parceiras).

Ainda embrionário, esse pode ser um dos maiores legados da Rio+20. Devemos ir além da mensuração restrita do PIB. O capitalismo do século XXI terá que superar a busca do crescimento econômico apenas, apontando sua bússola para o bem-estar e a felicidade da população.

 

 

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