O recado dado ao mundo durante a COP22 foi de que “nada pode parar a ação climática global”.
Realizada em Marraquexe, no Marrocos, a conferência durou duas semanas e promoveu debates envolvendo governos, sociedade civil e empresas.
O intuito maior foi de reiterar os compromissos assumidos pelos países como o Acordo de Paris e buscar caminhos para o financiamento climático.
O objetivo central do Acordo de Paris é manter a temperatura média global em 2ºC abaixo dos níveis pré-industriais, com esforços para contê-lo a 1,5 º.
A conferência deste ano passou, então, o foco das discussões às implementações das metas já assumidas em todo o mundo, as chamadas NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada, na sigla em inglês).
Por isso, a presença dos setores empresariais e financeiros foi destaque nesta edição da conferência. Foram debatidos temas como o desenvolvimento de mecanismos inovadores de financiamento para implementação de iniciativas que auxiliem no alcance das NDCs.
Para Sarney Filho, atual ministro do Meio Ambiente do Brasil, a mudança para uma economia de baixa emissão de carbono representa uma janela de oportunidades para os negócios.
Veja os principais tópicos da COP 22 e como o Brasil participou na conferência:
Precificação do Carbono para atingir NDCs
Tratado como item importantíssimo para o alcance das metas de NDCs, a precificação do carbono figurou diversas vezes como tema principal de discussões da conferência. Em debate estavam os três modelos existentes para precificação do carbono: a taxação direta, sob a forma de imposto; a transação de certificados de carbono, comercializados no mercado financeiro; ou ainda um modelo híbrido, numa combinação de ambos.
Durante a conferência foi lançado o estudo feito pelo CEBDS em parceria com o CDP e apoio do We Mean Business: Precificação de carbono: o que o setor empresarial precisa saber para se posicionar. O objetivo deste documento é prover as informações necessárias ao empresariado brasileiro sobre a atribuição de um preço ao carbono, como:
- eficiência na redução de emissões;
- benefícios ao desenvolvimento socioeconômico;
- impactos sobre a competitividade dos diferentes setores;
- como as empresas se inserem nesse processo;
“Trouxemos o estudo a público aqui na Conferência do Clima porque as empresas são parte indissociável das soluções em favor da descarbonização da economia mundial e este é um mecanismo que traz maior previsibilidade para seus investimentos e maior competitividade para as soluções empresariais de baixo carbono. A publicação mostra como as empresas estariam inseridas nos diferentes mecanismos de precificação de carbono que podem ser adotados no país, bem como seus consequentes impactos, oportunidades e desafios”, disse a presidente do CEBDS Marina Grossi, durante a COP22.
Brasil na COP 22
A NDC assumida pelo Brasil assumiu no Acordo de Paris estabelece 37% de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) até 2025, tendo como base o ano de 2005.
Sarney Filho apontou que o país conseguiu reduzir em 80% o desmatamento com o auxílio de tecnologias. Mas, ressaltou a importância de ampliação dos investimentos em ações climáticas. Assista ao vídeo.
“Na Amazônia estão 25 milhões de pessoas e os municípios mais pobres do Brasil. Se o bem ambiental não for valorado, o desmatamento volta a crescer, por isso, é preciso utilizar instrumentos econômicos como REDD+, Bolsa Verde, fundos de compensação, que precisam ser efetivados de maneira rápida”, explicou o ministro.
Em contrapartida, Blairo Maggi, atual Ministro da Agricultura do Brasil, destacou a questão econômica vivida pelo país. Hoje, quase 50% das exportações brasileiras são oriundas da prática agrícola. Ele defende melhores condições para que o setor possa contribuir com o Acordo de Paris. “Precisamos pensar em algo mais leve e mais factível para os produtores rurais”, afirmou.
Outro ponto importante que entrou na discussão foi o setor de transportes.
De acordo com Rasmus Valanko, Diretor de Clima e Energia do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), apesar de emitir 25% de todo os GEE no mundo, o setor de transportes pode ser o principal responsável pela transição para uma economia de baixo carbono.
Hoje, no Brasil, os transportes representam números alarmantes em razão da dependência de combustíveis fósseis e do sistema modal rodoviário no transporte de cargas. Os caminhões, por exemplo, emitem cerca de 82,2 milhões de toneladas (dados do ano de 2012), enquanto que todo o setor industrial emite 91,2 milhões de toneladas.
Em meio a este cenário, o ministro do Meio Ambiente aproveitou para salientar os benefícios do biocombustível e lançar a plataforma Biofuturo. A iniciativa articula 20 países e tem o intuito de incentivar o desenvolvimento e implantação dos biocombustíveis no mercado, a fim de ser uma alternativa aos combustíveis fósseis.
Setor privado como peça fundamental
O setor privado foi abordado durante toda a COP 22 como elemento chave para impulsionar as iniciativas no mercado de baixa emissão de carbono. Através de financiamentos, títulos verdes e outras formas de participação, o setor é visto como peça fundamental para o desenvolvimento e obtenção de resultados.
Alguns líderes do setor privado brasileiro deram suas colaborações no painel ‘A produção com baixa intensidade carbônica – uma oportunidade à indústria do século XXI’, moderado pela presidente do CEBDS, Marina Grossi, e realizado no Espaço Brasil, área do governo brasileiro na COP22.
David Canassa, vice-presidente da Câmara Temática de Energia e Mudança do Clima do CEBDS e gerente geral de Sustentabilidade e Inovação da Votorantim, falou sobre o uso de resíduos de alumínio para produção de cimento, o que reduz a demanda energética na produção de calcário.
“Temos que fazer com que a eficiência energética e de materiais estejam tão incorporadas aos nossos processos que possam gerar novos negócios e a vantagens competitivas”, apontou Canassa.
A representante da Ticket Log, Amanda Kardosh afirmou que a empresa gerou 15 mil toneladas em créditos de carbono em 2015 pela troca de gasolina por etanol na logística das empresas.
“O caso do etanol no Brasil é pouco divulgado, mas somos um dos únicos países do mundo com a tecnologia flex fuel tão difundida, com ampla oferta de biocombustível em todo o país”, ressaltou.
O diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Jorge Soto, apresentou o caso sobre polietileno verde e advertiu que a empresa tem como objetivo ser referência do setor químico no Brasil na busca constante por produtos menos emissores e, ainda assim, mais competitivos.
“A Braskem investe US$ 100 milhões em inovação e tecnologia todo ano e se preocupa com a emissão de carbono de seus fornecedores, por isso, 40% das emissões do escopo 3 da Braskem (fornecedores) já são geridas”, explicou.
Após inúmeras conversas, exposições de ideias e debates, a COP 22 encerrou com um sinal claro: é hora de fazer mais! Alguns participantes chegaram a dizer que seria muito satisfatório que os países dessem prosseguimento aos projetos de desenvolvimento sustentável, ao invés de lamentarmos a tragédia evitável alguns anos mais tarde.
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