A contribuição da tecnologia contida no conceito da Agricultura 4.0 foi tema de debate realizado pelo CEBDS nesta terça-feira (29), em São Paulo. Durante o encontro, que fez parte da série de eventos Quebrando Muros, especialistas trocaram experiências sobre o tema e participaram do lançamento da publicação Agricultura 4.0, disponível no site do CEBDS.
Uma das informações destacadas no trabalho é a de que o setor agropecuário é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil e no mundo. Ao mesmo tempo, é o mais vulnerável os efeitos das mudanças climáticas, o que enquadra o tema como um fator de sobrevivência para a atividade.
“É muito difícil fazer essa discussão com base na sustentabilidade, porque sempre falamos mais na Agricultura 4.0 com foco na produtividade.”, disse Guilherme Raucci, diretor de Novos Negócios da Agrosmart.
O que é Agricultura 4.0
A Agricultura 4.0 consiste em um conjunto de tecnologias avançadas integradas e conectadas por meio de softwares, sistemas digitais e equipamentos em campo capazes de trazer mais informação, monitoramento, precisão e eficiência à produção agrícola. Entre os aspectos mais presentes na Agricultura 4.0 é o da hiperconectividade com foco na geração de dados.
O objetivo é gerar informações sobre os mais diversos aspectos envolvidos no processo de tomada de decisão na produção. Resultado do fenômeno denominado como “quarta revolução industrial”, o conceito tende a se tornar nos próximos anos um importante recurso para tornar a cadeia agroalimentar mais sustentável resiliente aos efeitos das mudanças climáticas. Ainda que a Agrosmart tenha sido fundada com foco na produtividade, Guilherme Raucci afirmou que a geração de dados sempre teve um papel central nas soluções desenvolvidas pela empresa.
“Desde o início, tínhamos a noção de que tínhamos que ajudar a tomada de decisão. Hoje, são muitas tecnologias, e é comum os produtores dizerem que não conseguem diferenciar essas tecnologias, que não estão integradas. Por isso, propomos fazer essa integração˜, disse o diretor da Agrosmart, que é considerada no Brasil uma referência entre as AgTechs, ou seja, empresas especializadas em tecnologias para o setor agropecuário.
Estímulos para as AgTechs
O supervisor de Ambientes, Redes e Iniciativas da Embrapa, Cleidson Nogueira Dias, avaliou que as AgTechs que nascem de base tecnológica costumam ter preparo em relação ao segmento no qual atuam, mas lidam com um negócio de risco. Por isso, afirma, precisam se preparar.
“As empresas tem que pensar como planejar o modelo de negócios de forma escalável e perene. A empresa precisa conhecer o mercado, testar hipóteses, avaliar o seu investimento e avaliar investimentos”, avaliou Dias.
O superintendente da Embrapa citou entre as iniciativas da estatal para estimular as AgTechs o Pontes para Inovação, realizado com diversos parceiros na área de financiamento com o propósito de desenvolver a aceleração de startups. A edição do programa deste ano ficará com as inscrições abertas até o próximo dia 3.
O Pontes para Inovação foi realizado pela primeira vez em 2017, com 42 inscritos e 7 finalistas. Em 2018 foram 72 inscritos e 8 finalistas . Nesta terceira edição o programa traz novos parceiros que apresentam seus principais desafios tecnológicos no agronegócio. Dessa forma, ampliam-se as possibilidades e conexões com investidores, aceleradoras, parceiros e potenciais clientes.
Segundo Angélica Rotondaro, fundadora e consultora da Alimi Impact Ventures, a inovação no setor demanda investimentos de impacto, mas ainda há dificuldades no levantamento de indicadores e, consequentemente, de rastreabilidade para quem aplica os recursos.
“Essa medição tem muito a ver com as certificadoras, para a verificação da rastreabilidade. A gente acabou de fechar um projeto com uma fundação holandesa, o Rabobank, que busca justamente isso, que é identificar produtores para dar assistência técnica e linha de crédito para quem não consegue acessar o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura)”, disse.
Mais rastreabilidade na agropecuária com o blockchain
O blockchain foi um dos aspectos abordadores durante o encontro no que diz respeito à rastreabilidade e informações. A prática cria uma oportunidade para os pequenos produtores, com a possibilidade de acesso a novos mercados. O motivo é o atendimento de exigências cada vez maiores sobre informações relacionados aos produtos.
“É uma forma de as empresas compartilharem informações e interagirem entre si. A partir do momento que se cria uma rede blockchain, surge a oportunidade de se criar um valor novo”, disse Percival Lucena, líder de Blockchain da IBM. “Montar essas redes não é fácil, mas hoje oferecemos o IBM Food Trust, com mais de 500 produtos diferentes de empresas que estão colaborando entre si. A grande questão é essa, ou seja, unir os elos da cadeia para interesses em comum.”
A diretora de Estratégia em Meio Ambiente e Agricultura da Bayer para América Latina, Alessandra Cerdeira, observou que a percepção do público em geral sobre a inovação na cadeia de produção de alimentos ainda é pequena. “Acreditamos que a Agricultura 4.0 vai ajudar na manutenção da biodiversidade, seja por meio da redução de GEE, da redução de impacto ambiental, do menor uso da terra, ou até mesmo pela segurança alimentar. A Bayer está a par disso. Nosso compromisso de sustentabilidade leva isso em consideração, e, quem sabe, a agricultura tenha um papel mais incisivo e reconhecido nesse processo.”
O coordenador do programa de Inteligência Agroclimática do CEBDS, Felipe Cunha, observou que as soluções apresentadas pela publicação lançada indicam a relevância do setor agropecuário nos esforços de combate aos efeitos das mudanças climáticas. “O clima também é um fator de produção para a agricultura. O WBCSD lançou essa iniciativa que é a Inteligência Agroclimática, e Agricultura 4.0 vem despontando como uma solução”.
Soluções possíveis da Agricultura 4.0 no combate às mudanças climáticas:
Modelos de análises mais acuradas de clima, meio ambiente e produtividade;
Sensores de alta precisão para monitoramento nos equipamentos agrícolas;
Biotecnologia;
Hiperconectividade (big data, cloud computing, internet das coisas (IoT), operação remota);
Sistema de Informação Geográfica (ex: GPS, imagens de satélite, geoprocessamento);
Robótica e uso de drones;
Inteligência artificial