Produzir e preservar não são verbos antagônicas. E gerar impacto positivo em comunidades locais próximas às empresas é uma necessidade. Essas são as premissas básicas que orientam a iniciativa Amazônia Possível, que reúne instituições como Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, CEBDS, Arapyaú, Rede Brasil do Pacto Global, Instituto Ethos e Sistema B. Para ilustrar, a iniciativa promoveu um debate no Brazil Climate Action Hub, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), na COP25. AmBev, Natura e Votorantim Cimentos apresentaram cases em que mostram a valorização de produtos na Amazônia e a geração de uma cadeia de valor que impacta diretamente milhares de pessoas na região.
Outra proposta da iniciativa Amazônia Possível é o combate à ilegalidade. A presidente do CEBDS, Marina Grossi, reforça que é necessário separar o joio do trigo. “Precisamos diferenciar as atividades legais das ilegais. As ilegais devem ser combatidas com todo o rigor da lei. Mas também é importante destacar que existem bons exemplos de uma atuação responsável que alia preservação e produção e impacta positivamente a sociedade”, defende.
Co-facilitar da Coalização Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, André Guimarães, convidou as empresas a se engajarem na iniciativa. “A Amazônia Possível é um processo em construção baseado em dois pilares: ilegalidade não e olhar para frente. Precisamos, nos apoiando em experiências passadas, criar novos processos produtivos que agreguem valor e construam cadeias produtivas sustentáveis, atraindo investidores e jovens empreendedores”, reforçou.
Em um levantamento feito com 26 empresas, a iniciativa mapeou investimentos robustos e geração de empregos na região. As empresas em atividade na Amazônia atuam, em sua maioria, em temáticas de desenvolvimento local e economia florestas.
Durante o evento, a iniciativa lançou um processo colaborativo para a construção dos 10 princípios empresariais para uma atuação sustentável na Amazônia. As propostas estão disponíveis para contribuições de empresas e instituições até o dia 30 de janeiro. Os comentários podem ser feitos aqui. (Bit.ly/AmazoniaPossivel)
Iniciativas empresariais
Recém-premiada com o Climate Award da ONU, a Natura é uma empresa com atuação destacada na Amazônia. O gerente de sustentabilidade, Keyvan Macedo, apresentou o projeto Ekos, que valoriza ativos ambientais locais e cria mecanismos de geração de renda para quem ele chama de “guardiões da floresta”. “A Natura compra quase um quinto de seus insumos da região amazônica e temos o objetivo de chegar a 30%. Apesar de todas as dificuldades, que não são apenas logísticas, levamos prosperidade para mais de 4,6 mil famílias e conservamos 1.8 milhões de hectares”.
Keyvan ainda destacou a importância de exemplos disruptivos para superar desafios. “Tem um case que sempre gosto de citar sobre colaboração. Mesmo empresas concorrentes podem se unir para buscar soluções. Um exemplo vem da Ambev e Coca-Cola que se uniram para facilitar a reciclagem de suas embalagens no país”.
Com mais de 100 anos de atuação no município de Maués, na Amazônia, também conhecido como terra do guaraná, a Ambev consome 100% da fruta utilizada na produção do Guaraná Antártica colhida na cidade, sendo mais de 80% de produtores locais, que recebem mudas produzidas em uma fazenda da própria empresa. O vice-presidente de Sustentabilidade, Rodrigo Figueiredo, destaca que, mesmo preservando 80% da fazenda, a produção da fruta cresceu 140% na última década.
“Nosso negócio beneficia duas mil famílias locais em um trabalho 100% manual. Atuamos junto à comunidade com atividades sociais e de capacitação, com compartilhamento de técnicas. Além disso, distribuímos anualmente 50 mil mudas de guaraná para 150 famílias. O impacto reverbera e, em dois anos, promovemos 52% de aumento na renda de produtores locais”.
Partindo da máxima “do lixo ao luxo”, a Votorantim Cimentos cria valor para o açaí, fruta típica da região. Composto por 80% de caroço, até então descartado em quantidades acima de 300 mil toneladas, o açaí foi reconhecido pelo seu valor calórico nos fornos da companhia. O caroço, processado na região substitui o coque que viaja mais de 10 mil quilômetros para chegar à unidade de Primavera, no Pará. O uso do produto local, além de diminuir as emissões diretas, também diminui os gases emitidos no transporte.
“Uma das alavancas de redução de emissões do setor de cimento é a substituição do combustível fóssil. Hoje, 40% da energia em primavera é suprida com bagaço de açaí. Só esse ano, evitamos emitir 117 mil toneladas de carbono diretamente. Se somarmos as emissões indiretas, evitamos mais 200 mil toneladas de carbono na atmosfera. O açaí está mudando nossa história”.