O que Andréia, Marian(n)a, Nayara e Rebeca tem em comum? Elas são jovens mulheres engajadas no combate à crise climática e, juntas, participaram do painel Jovens Lideranças pelo Clima, organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), durante a Virada Sustentável do Rio de Janeiro. O protagonismo jovem ganhou popularidade em 2018 com a atuação da sueca Greta Thunberg que iniciou um movimento de greve escolar para alertar sobre os impactos da crise climática no planeta. Na última edição global da greve jovens de mais de 150 países aderiram ao movimento.
Representando o Engajamundo e a Fridays for Future Brasil (movimento nacional inspirado em Greta), Nayara Almeida, reforça a importância da educação para o combate à crise climática. “A Greta é resultado de uma educação de ponta e inclusiva. Ela é uma privilegiada por morar em um país que prioriza a educação. O que podemos destacar é que ela utilizou os privilégios para construir uma narrativa que fez com que a crise climática caísse na boca do povo. Ela levou o assunto que anteriormente só era discutido em conferências fechadas e fez com que a juventude e as ruas se manifestassem sobre”, destaca a jovem que estudante e ativista climática.
Líder de Engajamento do Centro Brasil no Clima e doutoranda em Ciência Política, Marianna Albuquerque encara a sala de aula com dois olhares: aluna e professora. Para ela, é necessário incluir o tema das mudanças climáticas nas aulas.
“Para todos que trabalham com educação, temos que pensar o aluno como um aprendiz. Precisamos capacitar os jovens para que eles ocupem os espaços de tomadores de decisão e sejam capazes de falar sobre suas vivências. Ninguém fala melhor sobre o que precisamos do que nós mesmos”.
Crise climática e desigualdade social
Moderadora do painel e coordenadora de comunicação do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Andréia Coutinho lembrou o impacto da desigualdade social como uma das dificuldades de engajar a sociedade no tema. Para a jornalista, a dificuldade de dar voz aos principais impactados pela crise climática parte de uma priorização de necessidades que precisam ser resolvidas. “Como comunicar a crise climática para pessoas que precisam enfrentar diariamente problemas como desemprego e violência? As pessoas mais vulneráveis são também as principais vítimas das mudanças climáticas e são alienadas do debate”, defende.
Mariana Britto, assistente de comunicação do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP), reforça o papel da desigualdade no baixo engajamento contra a crise climática. Mariana questiona como mobilizar hoje as pessoas que em 2013 protestaram contra o aumento das passagens em todo o país a cobrar ações contra a crise climática. “Precisamos estabelecer um diálogo muito sensível. As populações mais vulneráveis são as que menos contribuem para o aquecimento global e são as que mais sofrem com seus impactos. É fundamental trazer para o movimento periféricos, população de baixa renda, mulheres e negros”, acredita.
Mariana levou para o debate o impacto da mobilidade e dos transportes, setor responsável por 25% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa. Para ela, os principais desafios da mobilidade no Brasil são a sustentabilidade e a conscientização da população sobre o uso de transporte público. “Como tirar as pessoas do transporte individual e aproximá-las do transporte de massa? Uma das saídas é a eletrificação do transporte que enfrenta muitas dificuldades no país. Temos problemas mais antigos e mais urgentes”.
Segundo a jornalista, apenas 30% da população do Rio de Janeiro mora próxima a modais com grandes capacidades, como VLT, metrô e trem. O dado se agrava conforme análise de renda, cor e gênero.
O papel do setor empresarial
Responsável por cerca de 5% das emissões de gases do efeito estufa em 2017 segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases (SEEG), o setor empresarial brasileiro encontrou na transição para uma economia de baixo carbono uma oportunidade de negócios. Segundo levantamento do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), nos últimos três anos empresas associadas investiram mais de US$ 85 bilhões em redução e mitigação das emissões.
A assistente técnica do CEBDS, Rebeca Orosco, reforça, entretanto, que as empresas sabem que podem fazer mais. Citando o Ministro do Meio Ambiente da Argentina, Sergio Bergman, a jovem destaca que a crise climática é um sintoma. A causa, segundo Bergman, seria toda a forma de produção e consumo que não são sustentáveis.
“Vemos problemas como perda da biodiversidade, diminuição de recursos hídricos, poluição, desigualdade social. Todos são problemas oriundos da forma de produzir e consumir do planeta. Dito isso, sabemos que cada ator tem responsabilidades diferentes. Por isso o setor empresarial sabe da sua responsabilidade e age para gerar um impacto positivo no planeta. E essa ação é embasada no fato de que empresas mais sustentáveis serão mais bem sucedidas no futuro. As empresas tem o papel fundamental de criar soluções mais sustentáveis”, acrescenta.
Protagonismo
O protagonismo juvenil carece de apoio de informações na análise de Nayara. Para ela, os principais documentos ainda são em inglês, o que dificulta o consumo da informação. Entretanto, a barreira pode ser furada com a formação de grupos, estudo em casa e engajamento dos professores.
“Vocês enquanto jovens, que tem interesse em abordar o tema, plante essa semente. Converse com os professores e com a diretoria. E não só isso, entenda que tem como entender mais sobre clima por conta própria”.
O twitter e sites como Engajamundo, 350.org e Observatório do Clima também são algumas boas fontes de informação, segundo a ativista. A crise climática não é algo que atingirá somente ursos polares ou calotas de gelo. Ela impactará a todos. Um bom exemplo de narrativa é o documentário ‘O Amanhã é Hoje’, que acompanha a rotina de cinco pessoas atingidas pelas mudanças climáticas”, recomenda.