Com a crise climáticas no centro das discussões globais, jovens exigem medidas urgentes no combate ao aquecimento global
A juventude, quase sempre vista como rebelde e imatura, tem ganhado notoriedade quando o assunto são questões socioambientais e o futuro da humanidade. O exemplo mais atual é o da jovem sueca Greta Thunberg, que com apenas 16 anos, foi indicada ao Prêmio Nobel pela sua luta contra as mudanças climáticas, que começou com um manifestações solitárias em frente ao Parlamento da Suécia, culminando na criação do movimento Fridays for Future. No último dia 20 de setembro, milhões de jovens seguiram o exemplo de Greta e se manifestaram ao redor do mundo pelo clima e em favor da preservação do meio ambiente. O protesto pode ser considerado a maior manifestação da história. Greta é hoje, talvez o principal rosto do combate às mudanças climáticas. Mas no Brasil, diversas lideranças juvenis já despontaram e carregam na bagagem envolvimento em Conferências das Partes (COP, na sigla em inglês), coordenação de projetos e conscientização junto a grupos locais.
Norteados pelo 13º Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, os jovens reconhecem os alertas e números que evidenciam a urgência do tema e exigem medidas imediatas para combater às mudanças climáticas e seus impactos. Na abertura da Cúpula do Clima da ONU, em Nova York, o discurso emocionado e com palavras fortes de Greta chamou a atenção de líderes mundiais. “Por mais de 30 anos a ciência tem sido muito clara. E como vocês ousam não olhar, vir aqui e dizer que estão fazendo o suficiente?”, questionou a jovem, que acusou os líderes de roubarem seus sonhos e sua infância.
A brasileira Paloma Costa, advogada de questões ambientais e uma das coordenadoras do Engajamundo, também se manifestou com firmeza na abertura da cúpula: “Nós não vamos trabalhar com empresas que desmatam, não vamos ficar quietos. Mudamos nossos hábitos, mas vocês não estão seguindo a gente. O mundo inteiro orou pela floresta, mas nós não precisamos de orações, precisamos de ações”, disse a jovem.
Iniciativas pelo clima no Brasil
No Brasil, país fundamental para o alcance do equilíbrio climático do planeta, não faltam jovens e iniciativas engajados pela causa. A Virada Sustentável, movimento de mobilização colaborativa em prol da sustentabilidade e o maior festival do tema do país, em sua edição 2019 realizada em São Paulo, contou com o painel “Jovens Lideranças pelo Clima: olhando pelo futuro“, organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que reuniu representantes de diversas iniciativas com o intuito de engajar e mobilizar a sociedade civil contra o aquecimento global.
Amanda Costa, do Engajamundo e da Fridays for Future, Fernanda Tibério, do Youth Climate Leaders, Rebeca Orosco, do CEBDS, Luciano Frontelle, do Plant for the planet, e Andréia Coutinho, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), são alguns dos jovens engajados diretamente na luta. Foram eles que participaram do painel da Virada Sustentável de São Paulo, que também contou com a participação ativa da plateia presente.
Na Virada Sustentável do Rio de Janeiro, que será realizada nos dias 18, 19 e 20 de outubro, o CEBDS organizará novamente o painel “Jovens Lideranças pelo Clima: olhando pelo futuro”, desta vez chamando outros jovens e organizações para o debate. Confira a programação completa do evento aqui: http://bit.ly/2lyJwE1
CEBDS
Rebeca Orosco, do CEBDS, é assistente Técnica das áreas de Mudança do Clima e Finanças Sustentáveis do CEBDS, mestranda no Programa de Planejamento Energético – PPE da Coppe/UFRJ, na área de Planejamento Ambiental, no qual atuou como pesquisadora em projeto para avaliação de impactos de mudança de dieta global sob diferentes cenários climáticos como contribuição para visão de longo prazo do Greenpeace, no Laboratório Cenergia (Coppe/UFRJ). Graduada em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com extensão na área de engenharia de energias renováveis pela Fachhochschule Köln, na Alemanha.
“A informação é essencial para que haja a mudança. É preciso ter conscientização e informações corretas, pois além da luta de disseminar a informação temos que lutar contra a desinformação. Para as empresas, o risco climático também é uma oportunidade pois traz oportunidades de negócio, e quem não souber identificar isso não vai estar no futuro. Nós, como jovens, estamos nos preocupando com essas questões e queremos trabalhar com empresas responsáveis”, afirmou Rebeca durante o painel realizado na Virada Sustentável de São Paulo.
O CEBDS é a primeira instituição no Brasil a falar em sustentabilidade dentro do conceito do Tripple Bottom Line, que norteia a atuação das empresas a partir de três pilares: o econômico, o social e o ambiental, o CEBDS é referência na vanguarda da sustentabilidade tanto para as empresas quanto para parceiros e governos. É reconhecido como o principal representante do setor empresarial na liderança de um revolucionário processo de mudança: transformar o modelo econômico tradicional em um novo paradigma.
iCS
Andréia Coutinho, Coordenadora de Comunicação do iCS, é graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela PUC-Rio e mestre em Relações Étnico-Raciais pelo CEFET/RJ. Andréia faz parte do conselho do Narrativas, uma rede de profissionais de comunicação de causas – que atua nas organizações da sociedade civil, a partir da difusão de conhecimento e promoção de espaços de debate para a transformação social. No Instituto Clima e Sociedade, ela atua como coordenadora de comunicação, responsável por intermediar o relacionamento da organização com a mídia, cobertura de eventos, produção e coordenação de conteúdo.
“Quando falamos de clima, falamos de novas vozes, novos potenciais de liderança. A gente fala do futuro, mas o futuro é agora! A agenda climática mistura cenários, falamos de clima, sociedade, saúde mental, transporte, consumo. É uma agenda que nos permite pensar múltiplas coisas e nos faz entender o quando ela atravessa nossas vidas e a vida de pessoas mais vulneráveis”, relatou Andréia na abertura do painel Jovens Lideranças pelo Clima.
O iCS é uma organização filantrópica que promove prosperidade, justiça e desenvolvimento de baixo carbono no Brasil. Funciona como uma ponte entre financiadores internacionais e nacionais e parceiros locais. Assim, é parte de uma ampla rede de organizações filantrópicas dedicadas à construção de soluções para a crise climática. O iCS traça planos de ação frente aos problemas climáticos a partir de uma lente social. Por isso, prioriza medidas que, além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), também gerem melhorias na qualidade de vida para a sociedade, em especial para os mais vulneráveis.
Engajamundo e Fridays for Future
Amanda Costa, do Engajamundo e Fridays for Future, é estudante de Relações Internacionais, coordena o Grupo de Trabalho sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (GT ODS) na ONG Engajamundo, é membro das redes Global Shapers Community e Youth Climate Leaders (YCL).
“Acompanhando a agenda climática há algum tempo, o que eu sempre via era homens brancos, héteros, cisgêneros, dominando o espaço de fala e sustentados por uma sociedade patriarcal, capitalista e de supremacia branca. Se queremos trazer transformação, mudança, a gente precisa de diversidade, a gente precisa de inclusão. Temos que entender que quando o assunto são mudanças climáticas, as populações pretas, pobres, indígenas, quilombolas, ribeirinhas são as mais impactadas”, ressaltou Amanda durante o painel.
O Engajamundo é uma organização de liderança jovem e feita para jovens, sem fins lucrativos e qualquer vínculo com partido, governo ou empresa. São abertos a todos que acreditam na importância da atuação da juventude na esfera global. Atuam em rede, em núcleos espalhados pelo país. A rede do Engajamundo conta com mais de 1500 jovens e 180 voluntários de todas as cinco regiões do Brasil engajados em grupos de trabalho e núcleos locais.
Fridays for Future é um movimento popular iniciado em agosto de 2018 pela jovem sueca Greta Thunberg, de 16 anos. Naquele final de verão, numa sexta-feira, Greta sentou-se em frente ao Parlamento sueco sozinha, carregando um cartaz em que se lia skolstrejk för klimatet! (greve escolar pelo clima,), e distribuiu panfletos com dados sobre o aquecimento global. Aqui no Brasil o movimento começou um pouco antes de 15 de março de 2019, junto com o movimento global. Nos mobilizamos de forma totalmente espontânea e online, com pessoas procurando o movimento via Instagram. Em cerca de 5 dias já estávamos organizados em 24 cidades. Depois dessa primeira greve, seguimos com atos semanais em algumas cidades do Rio de Janeiro, Paraná e, mais recentemente, do Rio Grande do Sul.
Youth Climate Leaders
Fernanda Tibério, do Youth Climate Leaders, é bióloga, mestre e doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSCar e foi pesquisadora visitante na University of East Anglia. Foi professora e gestora de projetos socioambientais e atualmente é fellow da Youth Climate Leaders, atuando na pauta de Educação Climática.
“Estamos em um momento que identificamos o problema. Um problema grande, multisetorial, que não é de um, é de muitos. Sabendo disso, temos que reconhecer que não temos apenas uma solução, vamos ter que pensar várias soluções para territórios diferentes. E para isso é muito importante ouvir todas as vozes e incluí-las na conversa”, lembrou Fernanda que trouxe um vídeo gravado por Walter Oliveira, do Coletivo Jovem Tapajônico.
“Estamos sofrendo com um problema muito grande que são as queimadas e as mudanças climáticas. Hoje nós não sabemos mais quando é inverno ou quando é verão, e nem quanto tempo as estações vão durar. Isso é muito preocupante, pois não temos mais o controle dentro da nossa região”, contou Walter.
O Youth Climate Leaders (Líderes Climáticos da Juventude, em português) oferece caminhos únicos para equipar os jovens com as ferramentas necessárias para se envolver na economia climática. Isso inclui jornadas de aprendizado imersivas, nas quais os participantes desenvolvem uma compreensão das mudanças climáticas na teoria e na prática através do trabalho prático com soluções climáticas. E uma Rede Global que facilita as conexões entre profissionais do clima, especialistas e jovens líderes para promover oportunidades de desenvolvimento profissional e colocações climáticas em todo o mundo.
Plant for the planet
Luciano Frontelle, do Plant for the planet, Diretor Executivo na Plant-for-the-Planet Brasil, acompanha a formulação e implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas desde 2012. Foi convidado e/ou selecionado para conferências sobre esse processo na Indonésia, Bélgica, Sri Lanka, Peru, Estados Unidos, França, Marrocos e Alemanha. Em 2016 foi destaque na edição de aniversário da revista época como um dos 30 jovens abaixo de 30 envolvido em ações que vão mudar o país, devido o trabalho do Coletivo Clímax Brasil, do qual foi co-fundador.
“Hoje, dentro da perspectiva de crise climática que a gente vive e de direitos humanos, estamos unindo esforços e conversando com uma série de cidades para conseguir com que nossas atividades com as crianças de educação em mudanças climáticas possam se tornar parte da política municipal ou da política estadual. Assim conseguiremos atuar no maior número de espaços possíveis”, explicou Frontelle também durante o painel.
O Plant-for-the-Planet é uma iniciativa infantil que tem o objetivo de sensibilizar crianças e adultos sobre as questões da mudança climática e justiça global. Tudo começou com uma apresentação escolar de Felix Finkbeiner, de 9 anos, e hoje o Plant-for-the-Planet é um movimento global com um objetivo ambicioso: combater a crise climática plantando árvores em todo o mundo.