Na linha de frente da Amazônia

CEOs de grandes companhias aprofundam suas visões sobre a região a partir de um contato denso com as comunidades locais

Conhecer as iniciativas que unem preservação e produção com a floresta em pé foi um dos objetivos da Imersão na Amazônia, organizada pelo CEBDS com oito CEOs, no final de agosto. Os presidentes de grandes companhias com atuação no Brasil visitaram experiências bem-sucedidas de produção na floresta e conversaram com empreendedores, pesquisadores e a comunidade local.

Um dos conceitos mais importantes para os negócios na Amazônia é o da floresta ativa. Esse é, por exemplo, um dos pilares da ONG Saúde e Alegria, que atua desde 1987 no interior da Amazônia desenvolvendo ações de forma direta com a sociedade local. A infraestrutura embarcada nas chamadas unidades socioprodutivas, montadas pela ONG em regiões estratégicas do Norte do país, acaba sendo decisiva para o avanço dos empreendimentos relativos à economia da floresta. Proposta que esteve em destaque no roteiro preparado para a imersão dos CEOs.

Uma das visitas ocorreu na Comunidade do Carão, na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, uma área em que vivem mais de 22 mil habitantes espalhados em 70 comunidades. O Cefa (Centro Experimental Floresta Ativa) é o berço do programa Floresta Ativa, coordenado pelo Saúde e Alegria. O que os executivos viram no local ajudou na visão consolidada ao longo da viagem de que as comunidades locais são atores fundamentais em qualquer ação que se queira fazer na região. “Uma das formas que temos para divulgar a Amazônia, também, é mostrando a beleza dessas comunidades. Seja por meio de rodas de conversa técnicas, seja fazendo uma escuta com os povos que vivem dentro da floresta. Eles são os guardiães desses ativos florestais, que têm um potencial imenso”, afirma Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria.

Além das conversas, os empresários puderam conhecer a estrutura modular do Cefa, que integra unidades de permacultura e agroecologia, e entender a programação diversificada de cursos e capacitações para as comunidades da região. Na prática, trata-se de um local de formação e tecnologia onde são realizados eventos institucionais e comunitários. O Cefa também é um modelo demonstrativo de bioconstrução, com eficiência energética, aproveitamento da luz do dia e da ventilação natural, reaproveitamento da água da chuva e tratamento adequado de resíduos. Assim, suas instalações têm baixo impacto ambiental e valorizam os saberes dos povos nativos.

Como toda prática precisa estar lastreada em teoria – ou melhor, em um plano estratégico robusto para a Amazônia, baseado em análises concretas e dados realistas dos dilemas sobre o desenvolvimento sustentável da região -, nada melhor do que ouvir especialistas. Por isso, estiveram presentes na imersão vários estudiosos de como o socioambientalismo precisa avançar, algo que só deve ocorrer, lado a lado, com a iniciativa privada.

Nesse sentido, além de banhos de igarapé e culinária local, os CEOs debateram o futuro da região com referências intelectuais da Amazônia, como Clarissa Gandour (coordenadora de avaliação de política pública, com foco em conservação, no Climate Policy Initiative Brasil), Paulo Barreto (pesquisador associado ao Projeto Amazônia 2030), Fernanda Stefani (economista e especialista no desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis de amazônicos através da atuação focada em cadeia de suprimentos e logística para indústrias de alimentos, bebidas e cosméticos), Valmir Ortega (diretor executivo da Impacto Plus e fundador da Belterra Agroflorestas), Raimundo Brito (presidente da Cooperativa dos Fruticultores de Abaetetuba), Raphael Medeiros (diretor-executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia) e Francisco Costa (Universidade Federal do Pará).

Clarissa, por exemplo, uma das palestrantes, tem uma tese de que as pessoas de fora da Amazônia costumam ter uma visão romântica da região e, até por isso, é muito importante que isso seja discutido e desmontado. “Nessa visão, predomina a imagem de uma floresta magnífica e exuberante, uma imensidão remota e, de certa forma, surreal. Ainda que a floresta seja mesmo magnífica, ela não representa a totalidade da Amazônia”, explica a especialista nesta coluna para o site Plenamata.

Na sua fala para os CEOs, a especialista em Amazônia mostrou, com números bem embasados, como a tese de que não é preciso desmatar nem mais um metro quadrado de floresta para aumentar a produção é absolutamente válida. Entre 2004 e 2012, por exemplo, enquanto as taxas de desmatamento caíram 27.772 quilômetros quadrados por ano para 4.571 quilômetros quadrados, o PIB da produção agrícola e da pecuária da Amazônia subiu de R$ 20 bilhões para R$ 43,8 bilhões.

Outra visita, no meio dos debates sobre o futuro da floresta em pé, ocorreu na comunidade Urucureá, que fica na entrada do rio Arapiuns, circundada pelo rio Amazonas. O local faz parte do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, onde 80 famílias geram renda a partir do turismo de base comunitária, do manejo de subprodutos como a mandioca e do artesanato em palha de tucumã. O PAE Lago Grande também encerra um dos grandes dilemas amazônicos. A região ainda briga por um título de terra coletivo – assim como ocorre em vários outros assentamentos da Amazônia Legal.

Os empresários, alguns pela primeira vez na Amazônia, também estiveram na comunidade de Vila Anã, localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, na entrada do rio Arapiuns, distante três horas de barco, ou uma de lancha, de Santarém. Além de experiências como a piscicultura e a meliponicultura (abelhas sem ferrão), também existe o desenvolvimento de ações voltadas para o turismo sustentável. 

Muitos dos depoimentos dos empresários que fizeram parte da imersão foram enriquecidos com o debate final previsto na programação, que também contou com a participação de Marina Grossi, presidente do CEBDS. Confira o que os presidentes de grandes companhias querem para a Amazônia na seção “Escute a voz dos CEOs”, no site do Movimento Empresarial pela Amazônia, do CEBDS.

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