Hoje os resultados dos impactos ambientais acumulados ao longo de anos de atividades humanas estão começando a serem notados de forma clara pela sociedade e empresas. Dos exemplos mais diretos que estamos vivenciando estão as crises hídricas que vem afetando as diferentes regiões do país. A escassez afeta a produtividade das empresas e dos produtores rurais e até mesmo o abastecimento das cidades. Para minimizar os impactos, múltiplas soluções são necessárias, é preciso melhorar a gestão dos riscos, a viabilização de melhores tecnologias e investir na recuperação das matas que protegem nossos recursos hídricos.
Dentre essas soluções, aquela que é menos explorada é a agenda de recuperação ambiental das bacias. Leia este conteúdo e entenda mais sobre a Infraestrutura Natural e seus benefícios de impacto ambiental e financeiro.
O que é a Infraestrutura Natural?
Infraestrutura Natural refere-se à utilização de soluções baseadas na natureza para resolver questões ligadas ao uso e disponibilidade de água, de controle de materiais particulados, de enchentes, dentre outros. Hoje, os principais projetos estão relacionados àqueles espaços naturais e abertos, como florestas e zonas úmidas, que são estrategicamente manejados para proteger o abastecimento de água. Busca-se por meio desses projetos balancear a proteção e recuperação de áreas verdes evitando que estas áreas sejam destinadas somente ao crescimento urbano, produção agrícola ou reduzidas e degradadas, o que leva a um prejuízo para a própria sociedade, pois os recursos passam a se tornar escassos e/ou poluídos.
Por outro lado, se investimentos em infraestrutura natural forem feitos de forma correta, os benefícios são muitos. No médio prazo eles colaboram para a maior disponibilidade de água, por meio do controle de vazão, prevenção do acúmulo de sedimentos oriundos do assoreamento e retenção de poluentes. Ou seja, é uma medida preventiva: em vez de gastar recursos tratando a água poluída, pode-se investir em mecanismos que impeçam ou diminuam drasticamente a poluição.
Iniciativas ainda como exceção
Embora essas iniciativas venham ganhando reconhecimento em alguns países elas ainda figuram como exceção e não como uma solução concreta e complementar ao uso da infraestrutura tradicional (cinza). A maioria das cidades da América Latina dependem exclusivamente de infraestrutura cinza, como estações de tratamento de água, diques e barragens, mesmo quando as ameaças atingem uma escala onde essas soluções fiquem muito caras ou que não sejam suficientes para garantir a segurança hídrica das regiões.
Dentre as maiores dificuldades de se desenvolver projetos de infraestrutura natural está a falta de dados precisos sobre o retorno do investimento em termos da quantidade esperada de aumento e/ou estabilização de vazão de rios,, além da economia gerada com melhoria na qualidade da água. Isso se deve justamente ao baixo número de iniciativas monitoradas que possam gerar essas respostas. Torna-se, portanto, importante que se invistam em projetos pilotos que já podem ter como base os sucessos de iniciativas internacionais.
Como aumentar a Infraestrutura Natural no Brasil?
Uma melhor compreensão dos benefícios econômicos que este tipo de estratégia gera traria um maior engajamento a estas iniciativas. A perspectiva de que modelos sustentáveis podem ser também rentáveis deve ser colocada em pauta e com isso trazer mais investidores.
Case São Paulo – Infraestrutura Natural
Em alguns casos, investir em Infraestrutura Natural pode reduzir muito os custos a médio e longo prazo com tratamento de água. A cidade de São Paulo possui um fundo de água apoiado pela Aliança Latino-Americana de Fundos de Água, uma associação entre The Nature Conservancy (TNC), Fundação FEMSA, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Global Environmental Facility (GEF) e outros parceiros.
A TNC estima que, restaurando cerca de 14.300 hectares de terras próximas às bacias hidrográficas, a redução da sedimentação seria de 50% e traria uma economia de U$2,5 milhões ao ano em tratamento de água para cidade de São Paulo. Isso reflete em uma redução de 15% ao longo de 10 anos.
A WRI e uma rede de parceiros desenvolveu o método “avaliação verde-cinza”, uma metodologia de análise econômica que permite aos tomadores de decisão compararem os investimentos em infraestrutura natural com os custos benefícios da infraestrutura tradicional.
Foram feitos testes em países como Estados Unidos e Quênia. Os resultados mostraram que a Infraestrutura Natural traz, sim redução de custos em tratamentos posteriores da água.
Ferramentas de auxílio ao conhecimento
Como dito anteriormente, há uma carência em termos de informação e dados práticos sobre infraestrutura natural. Porém, hoje já existem diferentes ferramentas que ajudam a se inteirar do assunto e como aplicar as medidas.
É o caso da ROAM, uma metodologia de avaliação de oportunidades de restauração que orienta a tomada de decisão através de estratégias que apontam os benefícios ambientais e econômicos.
Existem outras ferramentas como InVEST, RIOS e ROOT que mostram áreas de menor custo para restauração.
O Brasil e algumas regiões do mundo ainda estão em um estágio inicial na prática de projetos relacionados com Infraestrutura Natural. Mas, é evidente que com a ajuda de ferramentas facilitadoras este cenário tende a crescer. Isso trará um benefício enorme em termos de qualidade e disponibilidade hídrica às cidades nos próximos anos. Para ler mais conteúdo como esse, siga acompanhando nosso blog!