A Agricultura 4.0 e o papel da inovação na superação dos desafios impostos pelas mudanças climáticas foram discutidos em um dos paineis do Seminário CEBDS, realizado no último dia 5, em São Paulo.
Participam do painel, Luiz Roberto Barcelos, presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da CNA; Alessandra Fajardo, diretora da Bayer; Percival Lucena, líder de Blockchain da IBM Brasil; Julia Moretti, gerente de Sustentabilidade da COFCO; e Luiz Cornachioni, diretor executivo da Abag, que mediou o debate.
As mudanças climáticas representam um desafio sem precedentes para os governos, setor privado, academia e sociedade civil. O último relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) foi taxativo: mudanças sem precedentes são necessárias para limitar o aumento médio da temperatura global da superfície terrestre a 1,5 graus Celsius. Empenhado em construir soluções junto ao setor privado, o CEBDS voltou seu olhar para a cadeia do agronegócio, desde a produção até o consumidor final.
Somando-se as emissões indiretas, por desmatamento, e as diretas, o agronegócio brasileiro responde por 71% das emissões totais do país, e está no centro da contribuição nacionalmente determinada (NDC) ao Acordo de Paris, que inclui recuperar mais de 15 milhões de pastagens degradadas e reflorestar outros 12 milhões de hectares, além de reduzir a zero o desmatamento ilegal até 2030.
Principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) no país e uma das mais impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas, a cadeia da agroindústria tem pela frente o gigante desafio de conciliar medidas de mitigação de GEE com o aumento da produção e oferta de alimentos para a população.
Problemas fitossanitários, mudança na geografia dos cultivos, eventos extremos, como secas e tempestades, perda de polinizadores e mudanças abruptas do regime hídrico, são alguns dos efeitos práticos e locais das mudanças climáticas. De todos estes uma coisa é certa: são riscos alarmantes para a sobrevivência do agronegócio brasileiro.
Nesse contexto, que a princípio soa desanimador, novas iniciativas buscam promover a inserção da inteligência climática, ou seja, como tornar o setor mais resiliente às mudanças climáticas, no setor de agricultura e alimentos com objetivo de aumentar em 50% a disponibilidade de alimentos nutritivos, enquanto reduz em 50% as emissões de GEE.
“A Bayer está criando um comitê global de sustentabilidade, com especialistas e stakeholders, em busca de novas ideias e desafios. Nesse sentido estamos tentando trazer a solução para produzir mais de uma forma melhor”, disse Alessandra Fajardo, da Bayer.
Adaptação às mudanças climáticas
Coordenada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Inteligência Agroclimática (IAC) promove uma adaptação das culturas frente às mudanças climáticas e busca reduzir as emissões de GEE, ao mesmo tempo em que desenvolve a resiliência e aumenta produtividade. O projeto parte do princípio de que é necessário garantir alimentos nutritivos para uma população crescente de mercados globais e hábitos pouco sustentáveis.
“O uso de tecnologia avançada possibilita o melhor aproveitamento dos recursos. O setor agro é um dos que mais pode se beneficiar no Brasil da tecnologia da informação para melhorar os processos e fazer mais com menos”, observou Percival Lucena, da IBM Brasil.
Uma das conclusões durante o debate foi a de que não é necessário apenas aumentar a produtividade, mas reduzir perdas e desperdícios após a colheita, promover uma mudança de hábitos, repensar quadros regulatórios e incentivos econômicos, desenvolver uma base produtiva que gere impacto ambiental e social positivo e construir uma cadeia de valor para novos produtos da bioeconomia.
“Mais de 20% das frutas são desperdiçadas por não serem bonitas. Precisamos mudar essa mentalidade. Isso prejudica os produtores, que precisa ocupar mais espaço para produzir”, afirmou Luiz Roberto Barcelos, da Abrafrutas.
Conciliar os impactos da mudança do clima com o aumento da produção e oferta de alimentos é o desafio da cadeia agropecuária daqui em diante. Um dos instrumentos possíveis é o de Parceria Público-Privadas (PPPs) para pesquisa, desenvolvimento, demonstração e lançamento de tecnologias.
É necessário reconhecer os desafios comuns e se preparar para aumentar a capacidade de superar as adversidades. A visão integrada da cadeia sobre os riscos, oportunidades e soluções é fundamental para tornar o sistema de alimentos como um todo ainda mais forte para este futuro incerto. Muitos dos desafios são compartilhados entre os diferentes elos dessa cadeia e muitas das soluções, existentes e futuras, podem aumentar significativamente o potencial individual de cada um.
“A gente só expande para regiões onde seja possível plantar soja e esteja de acordo com o nosso padrão de sustentabilidade. Levamos a sério o impacto e analisamos o CNPJ dos nossos fornecedores e as restrições das áreas da fazenda que usamos”, disse Julia Moretti, da COFCO)
Sistemas de alimentos resilientes no Brasil
Esses temas foram objeto dos debates ocorridos durante workshop realizado pelo CEBDS em junho deste ano, que reuniu em São Paulo diversos elos da cadeia produtiva de alimentos. O resultado do encontro foi publicado no trabalho Sistemas Resilientes de Alimentos no Brasil.