O diálogo para construir sobre Resíduos nos oceanos e economia circular, realizado no Seminário CEBDS 2019, teve como objetivo estabelecer indicativos a serem consolidados na revisão da Visão 2050 do CEBDS. A discussão contou com a participação intensiva da plateia, e foi conduzida pela assessora sênior de projetos e processos do CEBDS, Tatiana Araujo. Participaram como debatedores representantes de empresas associadas ao CEBDS: Carlos Artexes (Sesc); Claudia Leite (Nespresso) e Fabiana Quiroga (Braskem).
Os resíduos sólidos tornaram-se, nos últimos anos, um dos problemas centrais em termos de planejamento urbano e gestão pública em praticamente todas as grandes cidades do mundo. O estudo A Organização Coletiva de Catadores de Material Reciclável no Brasil: dilemas e potencialidades sob a ótica da economia solidária, do técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Sandro Pereira Silva, apresenta estimativas recentes que apontam para uma geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil em torno de 160 mil toneladas diárias – 30% a 40% desse montante são considerados passíveis de reaproveitamento e reciclagem. Com um setor ainda pouco explorado no país, apenas 13% desses resíduos são encaminhados para a reciclagem.
Os dados ainda revelam a composição dos resíduos descartados no país: 57,41% de matéria orgânica (sobras de alimentos, alimentos deteriorados, lixo de banheiro), 16,49% de plástico, 13,16% de papel e papelão, 2,34% de vidro, 1,56% de material ferroso, 0,51% de alumínio, 0,46% de inertes e 8,1% de outros materiais.
O Brasil está atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. O país também é um dos que menos recicla este tipo de lixo: apenas 1,2% é reciclado, ou seja, 145.043 toneladas. Cerca de 8 milhões de toneladas de plásticos entram no oceano anualmente, segundo o WWF. Mantido esse ritmo, até 2050, haverá mais plásticos que peixes nos oceanos. Sem mudanças sistemáticas urgentes na forma como o plástico é produzido, consumidos e eliminados, a poluição do plástico deverá dobrar até 2030.
Em janeiro de 2019 foi lançada a “Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos”, que já inicia suas atividades dedicando US$ 1 bilhão (R$ 3,7 bilhões) a projetos e desenvolvimento de tecnologias para acabar com o descarte de plásticos no meio ambiente, especialmente nos oceanos.
A Aliança tem a meta de aumentar o investimento para até US$ 1,5 bilhão (R$ 5,5 bilhões) nos próximos cinco anos. Com cerca de 40 empresas globais dos setores de plásticos e bens de consumo, a Aliança tem como objetivo desenvolver e implementar soluções que minimizem o descarte indevido de resíduos plásticos e promovam destinos sustentáveis para plásticos usados.
Como as empresas enxergam a economia circular?
Um relatório da Circle Economy, grupo apoiado pela ONU Meio Ambiente, mostrou que apenas 9% da economia global é circular. Segundo a pesquisa, que foi divulgada este ano, o planeta reutiliza 9,2% das 92,8 bilhões de toneladas de minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa usados todos os anos em processos produtivos.
Com foco na oportunidade gerada pela transição da economia linear para a economia circular, o CEBDS coloca o tema em debate com suas empresas associadas para construir uma agenda propositiva sobre economia circular.
A mesma pesquisa ressalta as vastas oportunidades para reduzir as emissões de gases do efeito estufa por meio da economia circular — sobretudo o reúso, a remanufatura e a reciclagem — em setores-chave, como o de construção, por exemplo.
Diante desses dados e do crescimento da população mundial nas últimas décadas e a perspectiva da entrada de milhões de pessoas no mercado de trabalho, aumenta a urgência de uma mudança no modelo de produção atual da economia linear para economia circular. Os recursos naturais são finitos e o impacto do descarte incorreto no meio ambiente já é considerado um dos maiores problemas ambientais da sociedade atual. O conceito de “fazer, usar e jogar fora” é insustentável.
O atual sistema produtivo, linear, não é sustentável na maioria das situações: gera grande acúmulo de resíduos que não recebem novos usos e induza exploração excessiva de recursos, o que pode levar ao esgotamento de matérias-primas. Pensando nesse cenário, o CEBDS criou um e-book, que você pode baixar aqui, para que você possa entender o conceito de Economia Circular e a aplicação da logística reversa em seu contexto; conhecer a aplicação e os benefícios na gestão de resíduos; e confirir ações bem-sucedidas realizadas por grandes empresas associadas ao CEBDS.
Mudança imediata dos padrões de produção e consumo
A Economia Circular propõe a mudança imediata dos padrões de produção e consumo que ainda seguem uma linearidade: extração dos recursos naturais, manufatura, distribuição, uso ou consumo e descarte. Pensando na totalidade do produto, conectando a ponta da linha de produção ao início dela, a economia circular visa garantir, a longo prazo, o ciclo de vida não só de produtos e serviços, mas, principalmente, dos seres vivos.
O momento é de redefinir o modelo econômico baseado no consumo de produtos descartáveis e de investir em tecnologias e modelos de reutilização e otimização dos recursos globais. Quais os riscos para o planeta se nada for feito? Como se dará essa transição? O que falta para a economia circular ganhar escala no Brasil?
Uma das etapas da economia circular é a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de um produto, que consiste no estudo completo dos impactos gerados em todo o ciclo de vida de um produto; uma medição de sua ´pegada ambiental´. Os estudos de ACV abrangem desde a extração da matéria-prima até sua destinação final, passando pelas etapas de produção, distribuição e consumo.
Uma grande contribuição do ACV é identificar onde estão os impactos mais relevantes no ciclo de vida de um produto, para buscar alternativas. Muitas vezes o impacto está em etapas “invisíveis” aos olhos do consumidor e sociedade, como por exemplo, um grande consumo de água ou emissões no transporte, e por isso ao trazer melhorias a empresa deve elaborar consistente campanha de divulgação para valorizar o esforço envidado.
No World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), órgão mundial ao qual o CEBDS é vinculado, um grupo de trabalho atua na construção de Indicadores de Transição Circular, com objetivo de estabelecer um conjunto harmonizado de indicadores que ajude o setor privado a identificar oportunidades circulares e riscos lineares e determinar suas prioridades e metas circulares. O documento será lançado em 2020.