Foi em um grupo de um aplicativo de conversa que recebi a notícia de uma ativista brasileira nomeada como uma dos sete integrantes do Youth Advisory Group on Climate Change, uma espécie de jovens assessores em clima do Secretário Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), António Guterres. É de Brasília, no Centro-Oeste brasileiro, que vem Paloma Costa, de 28 anos, a única latino-americana da lista, que conta ainda com jovens do Sudão, Fiji, Moldávia, Estados Unidos, França e Índia.
A mesma Brasília, ocupada pelo segundo maior bioma da América do Sul e também o segundo bioma brasileiro em número de alertas de desmatamento e de áreas desflorestadas: o Cerrado. Em 2019, segundo dados do MapBiomas Alerta, foram quase 409 mil hectares de área desmatadas – mais de 33% de todo o desmatamento no país.
Paloma é advogada, defensora de direitos humanos e coordenadora do Grupo de Trabalho em Clima, da ONG Engajamundo. Nos últimos dois anos, foi a coordenadora da delegação jovem enviada pela ONG às COP 24, na Polônia, e COP 25, na Espanha. Foi em Katowice, em 2018, na primeira delegação coordenada por Paloma, que a Hamangaí Pataxó Hã-Hã-Hãe se tornou a primeira indígena a fazer parte da comitiva do Engajamundo.
Ativista pelo clima
Apesar da pouca idade, Paloma narra um forte histórico de luta contra as desigualdades e, mais recentemente, contra as mudanças climáticas. Da jovem que coletava lixo de parques ecológicos perto de casa a convidada para a abertura da Climate Action Summit 2019, ao lado do Secretário Geral da ONU e da jovem ativista climática e indicada ao Prêmio Nobel, Greta Thunberg.
O currículo de ativismo na área é bem extenso: além da participação em duas COPs; Paloma também esteve na Latin America and Caribbean Climate Week, em Salvador; uma dos 30 integrantes da Abu Dhabi Youth Voices; participação no Youth Climate Summit e na Climate Action Summit, em Nova Iorque; Cúpula da Juventude; e até participação na 43ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na qual representou a sociedade civil no tópico de juventude e clima.
Com uma voz que transborda energia, e ao mesmo tempo embarga quando fala do papel dos povos tradicionais na manutenção da floresta em pé, Paloma comemora a conquista de representar as juventudes brasileiras – no plural, como ela repetiu diversas vezes ao longo da entrevista – no Youth Advisory Group on Climate Change.
“É um marco na luta das juventudes podermos ocupar esse espaço de alto nível, tão restrito e tradicionalmente ocupado por homens brancos heteronormativos. É uma enorme responsabilidade conectar as vozes das juventudes brasileiras, dos indígenas, quilombolas, periféricos, para que nossas vozes não sejam apenas um grito de esperança, mas que sirvam como demandas vinculantes de ações e decisões que serão tomadas nesses espaços”, sentencia.
Um longo caminho a percorrer
A transparência nos dados, acessibilidade a informações e educação climática mais democrática são alguns dos temas defendidos por Paloma, que acredita que, para liderar as ações necessárias, os jovens precisam estar conscientes e ser capazes de entender quais soluções precisam ser endereçados. Para ela, é fundamental incorporar no imaginário das juventudes do Brasil o que significa a crise climática e como ela impactará toda a população, com destaque para os mais vulneráveis: jovens, mulheres, pretos, populações periféricas e tradicionais.
Foi na última COP, em Madri, que a jovem ativista celebrou uma pequena conquista das populações mais vulneráveis: a aprovação do Plano de Ação em Gênero (GAP, na sigla em inglês). O documento coloca a equidade de gênero como um dos caminhos para combater a crise climática.
“Quando começamos o Fridays for Future (movimento iniciado pela sueca Greta Thunberg) no Brasil, entendi a necessidade de olhar a consciência e a educação climática antes de qualquer ativismo. Não tem como nenhuma pessoa, em situação de vulnerabilidade ou não, participar de qualquer debate ou processo de tomada de decisão sem acesso a informação. E para ter acesso, precisamos que as informações estejam disponíveis, transparentes e com fácil acessibilidade”, afirma.
Paloma também cobra das empresas um protagonismo maior no combate às mudanças climáticas. “Convido todas as empresas a se responsabilizar por reverter, na medida do possível, o impacto que causaram, e que essa reparação seja feita na região impactada, para a comunidade que foi afetada. As empresas precisam assumir sua responsabilidade socioambiental coletiva. Se não assumirem, nós, como futuros líderes, não vamos trabalhar, comprar e financiar essas empresas. Se não houver uma mudança de atitude, no futuro que vier, essas empresas não terão mais vez”.