“O ingresso mundial na economia verde é inevitável, irresistível e irreversível”, afirmou Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) na abertura do Sustentável 2016 – 8º Congresso de Desenvolvimento Sustentável, promovido pela entidade em 25 de outubro, no Museu do Amanhã (RJ). Com plateia lotada durante as oito horas do encontro, o Sustentável 2016 congregou empresas, governo, meio acadêmico e sociedade civil, reunindo mais de 500 pessoas presentes e mais de 520 visualizações durante a transmissão ao vivo do evento.
Para Marina Grossi, o evento aconteceu em um momento de grande desafio, em que o mercado precisa rever práticas e aprender a dimensionar, por exemplo, o valor de elementos hoje ignorados nos planos de negócios tradicionais, como uma floresta em pé, água de qualidade ou uma população com acesso a educação e bem-estar: “No novo cenário que se anuncia, os preços relativos de produtos e serviços vão mudar completamente para refletir o custo do carbono embarcado em cada item”.
A iniciativa privada – tanto empresas quanto o setor financeiro – é um agente indispensável na transição para a economia verde. Sem ela, não há escala para efetuar as mudanças necessárias para conter o aquecimento global nos níveis negociados no Acordo do Clima (limite de 2o C acima da média pré-industrial, com esforços para não ultrapassar 1,5o C). “Esse engajamento vai exigir a substituição de práticas de mercado e de investimento focadas apenas no lucro e no consumo por modelos de negócios ambiental e socialmente sustentáveis. Precisamos desenvolver os mecanismos para alcançar esse equilíbrio, e o Sustentável 2016 trouxe contribuições para esse debate”, diz ela.
Dividido em quatro painéis, o Sustentável 2016 reuniu importantes especialistas internacionais e nacionais e se impôs o desafio de não limitar a discussão à teoria, trazendo exemplos inspiradores de novas práticas. Confira alguns desses momentos.
A sustentabilidade em um cenário de crise
Acabar com a sustentabilidade como “departamento” nas empresas e inseri-la em todas as etapas de qualquer negócio, desde sua concepção, é condição para que a economia verde se concretize. Essa foi a principal conclusão do primeiro painel, mediado por Linda Murasawa, superintendente executiva do Banco Santander, com participação da diretora da Climate Bonds Initiative, Justine Leigh-Bell, do presidente da YouGreen Cooperativa, Roger Koeppl, e do presidente do Jardim Botânico, Sergio Besserman. Outros pontos de destaque foram a necessidade de desenvolver mecanismos para financiar projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, em especial os títulos verdes (ou green bonds), e a constatação, por Justine Leigh-Bell, de que a crise econômica é potencialmente um vetor de mudança para uma economia de baixo carbono, à medida que ações para reduzir emissões podem, também, aumentar a eficiência e os ganhos de determinados setores.
Uma nova relação dos negócios com os recursos naturais
O segundo painel do Congresso, mediado por Daniela Lerda, coordenadora do programa CLUA Brazil Initiative, da Fundação Ford, concluiu que os negócios são os novos ativistas da sustentabilidade, pela própria capacidade empresarial de garantir que objetivos se concretizem. Mas há o desafio de promover uma mudança cultural, que não dissocie o capital natural do social e do financeiro. Uma das ferramentas é a precificação do carbono, que, no entanto, patina em incertezas sobre como se dará essa regulamentação, inclusive pela falta de uma base de comparabilidade aplicável a todas as empresas. Outro destaque foi o papel do cidadão comum – que dita o modelo de consumo e tem nas mãos a decisão de apenas consumir menos ou ser adepto da economia circular, baseada no não-consumo, no reúso e na reciclagem. Assim, o mercado deixa de ser um ente abstrato para ser resultado da somatória das escolhas de cada um, as quais impactam de modo direto as decisões de negócios. O painel teve participação de Ana Carolina Szklo, gerente sênior de Projetos e Assessoria Técnica do CEBDS, de Kevin Moss, diretor global do Centro de Negócios do World Resources Institute (WRI), e de Marcelo Alonso, diretor de sustentabilidade da Natura, que ressaltou: “Somos a última geração que pode acabar com o aquecimento global e também a primeira que pode acabar com a extrema pobreza”.
O futuro das cidades e a mobilidade sustentável
Mediado pelo professor Ronaldo Balassiano, do Núcleo de Planejamento Estratégico de Transportes e Turismo do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o terceiro painel inspirou-se nos impactos/legados trazidos pela realização de grandes eventos para a cidade do Rio de Janeiro. Participaram Jailson Silva, coordenador geral do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, Pedro Junqueira, diretor de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro, e Rasmus Valanko, diretor de Clima e Energia do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês), do qual o CEBDS faz parte. A mobilidade foi um ponto importante de discussão, inclusive pelo impacto direto na redução das emissões de carbono, assim como engajamento social, tratamento de resíduos, geração de energia e construções, temas que influenciam diretamente a capacidade brasileira de realizar, até 2050, as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
De onde viemos, onde estamos e para onde vamos
Com participação da presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, do presidente do conselho curador da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Israel Klabin, e da presidente do CEBDS, Marina Grossi, como mediadora, o painel de encerramento teve como objetivo identificar os grandes desafios de governos, empresas e sociedade frente à sustentabilidade. Klabin fez a abertura resgatando o desenvolvimento do conceito de sustentabilidade desde 1987, quando o termo foi cunhado, até os nossos dias, em que as sociedades precisam escolher entre manter o catastrófico curso da exploração dos recursos naturais e energéticos atual ou utilizar a tecnologia e a responsabilidade humana para abraçar, de imediato, um modelo de desenvolvimento sustentável. Maria Silvia, por sua vez, estabeleceu uma ponte entre passado e futuro da sustentabilidade ao falar da nova agenda da instituição que dirige, a qual passará a financiar programas de saneamento básico. Segundo ela, essa é uma agenda do século 19 que o Brasil ainda não cumpriu, uma vez que, calcula-se, 50% da população não contam com redes de esgoto. A contribuição do setor empresarial para a sustentabilidade foi o foco de Marina Grossi. De acordo com ela, ao se integrar às iniciativas para conter as mudanças climáticas, o setor empresarial pode contribuir anualmente com reduções de emissões de carbono entre 3,2 bilhões e 4,2 bilhões de toneladas, algo como 7% a 9% das emissões mundiais. No Brasil, ela citou a parceria do CEBDS com a We Mean Business (WMB), uma coalizão global de lideranças que revolucionam suas práticas de negócios à luz de compromissos como uso de energia elétrica renovável, fim do desmatamento na cadeia de produção e precificação do carbono: “A adesão formal de empresas e parceiros brasileiros, como a própria CNI, mostra que as tomadas de decisões em torno das mudanças do clima são estratégicas e essenciais para o futuro de qualquer operação”.
O Sustentável 2016 teve patrocínio dos bancos Bradesco, Itaú e Santander, e contou com a apresentação de um esquete do grupo Spectaculu na abertura do evento. Ao final, foram homenageados Israel Klabin e os fundadores do CEBDS, Erling Sven Lorentzen e Eliezer Batista, representado pelo filho Harald Batista.
Veja mais fotos:
[slideshow_deploy id=’6440′]
Fotos: Vânia Mendes
Assista na íntegra o Sustentável 2016: