Por Marina Grossi
Incertezas, contradições, constatações, construção, mudanças. A mistura destas palavras seria uma forma bem adequada para definir 2013. O ano termina deixando marcas negativas nas dimensões institucional, econômica, social e ambiental, mas abrindo janelas de oportunidades e opções para o futuro.
No curto prazo, as perspectivas não são das melhores, especialmente em relação ao controle do clima, hoje o mais urgente e delicado desafio. O resultado da COP-19, a Conferência do Clima da ONU, realizada em Varsóvia, na Polônia, aprofundou as incertezas quanto à capacidade das lideranças políticas globais estabelecerem metas de redução de emissões de gases do efeito estufa.
A crise econômica mundial permanece como biombo dos países desenvolvidos para não assumirem suas responsabilidades históricas. O bloco emergente se acha no direito de manter e até ampliar o uso de combustíveis fósseis nas matrizes energéticas, apesar das advertências científicas e dos eventos climáticos mais intensos e frequentes.
Embora frustrante, a COP-19 abriu espaço para a definição das bases de um acordo internacional a ser assinado em Paris, na França, em 2015, para entrar em vigor a partir de 2020. Antes disso, Lima, no Peru, promoverá, em 2014, a COP-20.
Também em 2015, a ONU anunciará os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esse movimento fortalecerá o esforço para o estabelecimento de metas de princípios básicos da sustentabilidade: recuperação e manutenção de ativos ambientais e um efetivo combate à pobreza.
Independentemente do sucesso da COP-21 e dos ODS, os próximos seis anos serão decisivos para que o mundo encontre o caminho de um modelo de desenvolvimento que atenda de forma equilibrada demandas econômicas, sociais e ambientais. O papel de outros setores – como empresas e organizações sociais e acadêmicas – tem se fortalecido: são fundamentais nesse novo processo que o mundo atravessa.
No momento, há boas e más notícias. O gás de xisto – que emite 50% menos do que o gás convencional – ganha espaço no mercado americano, chegando a reduzir em 22,37% as importações de petróleo dos Estados Unidos. Em compensação, as principais economias da União Europeia estão substituindo as usinas nucleares por termelétricas movidas a carvão. Na dimensão social, a ascensão das economias emergentes reduz a pobreza no mundo, mas não a ponto de impactar positivamente os países mais fragilizados, especialmente os da África subsaariana.
No Brasil, um cenário de desafios e oportunidades. As manifestações trouxeram à tona vários temas relacionados à sustentabilidade: mobilidade urbana, investimentos em infraestrutura para os grandes eventos e o legado para a população, modelo de gestão com ênfase na transparência e no combate à corrupção. As reivindicações populares alertaram os governantes para a necessidade de repensar comportamentos e estratégias de políticas públicas. A aprovação da lei anticorrupção, que entra em vigor a partir de janeiro, e a ampliação da transparência do Congresso Nacional são exemplos significativos.
O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) e demais conselhos nacionais do WBCSD (sigla em inglês do Conselho Mundial) adotaram como diretriz estratégica o estudo “Vision 2050”, que apresenta um conjunto de recomendações concretas sobre o que precisamos fazer para chegar à metade do século em condições de oferecer vida digna aos 9 bilhões de habitantes que estarão vivendo no planeta sem afetar ainda mais os ecossistemas.
Durante a Rio+20, lançamos o “Visão Brasil 2050”, que tem por base nossa realidade. O segundo passo é a elaboração do “Ação 2020”, que terá um framework a ser lançado no fim de 2014, com ações das empresas para aliar a agenda do setor privado com a da sociedade e propor soluções de negócios e políticas públicas.
No nosso caso, precisamos aprender a aproveitar as vantagens competitivas – água, biodiversidade, potencial energético, sol o ano inteiro, áreas disponíveis para produção de alimentos e diversidade cultural – não só para atender demandas sociais e ambientais, mas, sobretudo, para transformá-las num círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável.
Artigo publicado no site da Amcham em 06/02/2013