Marcado pelos efeitos de uma crise econômica mundial e de manifestações populares nas ruas do Brasil, 2013 foi um ano em que questões-chave da sustentabilidade ganharam ainda mais peso na agenda do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), seja em estudos, publicações, eventos ou em parcerias estratégicas. Entre elas, a mensuração da sustentabilidade e a incorporação das externalidades nos produtos e processos, a adaptação às mudanças climáticas e a defesa da diversificação da matriz elétrica nacional, os programas de microfinanças como estratégias de combate à exclusão social, a construção dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a formação de líderes empresariais mais engajados e a estruturação de uma agenda de ações para o setor empresarial brasileiro para 2020.
“Essas são questões que devem ganhar cada vez mais relevância nas empresas que percebem os benefícios proporcionados pelo modelo sustentável nos negócios e que o tradicional lucro financeiro, isoladamente, não representa mais prosperidade”, considera Marina Grossi, presidente do CEBDS.
Este ano, o Conselho Empresarial Brasileiro começou o planejamento e a estruturação de uma agenda para o mundo dos negócios para 2020, com base nas demandas da sociedade e com respaldo da ciência. São ações, a ser capitaneadas pelas empresas, para responder às urgências da sociedade em áreas prioritárias de desenvolvimento sustentável, buscando escala e velocidade na implantação de soluções. O Ação 2020 irá funcionar no Brasil como uma plataforma e terá um framework que será lançado no fim de 2014.
Mensuração da sustentabilidade
Para superar os desafios da mensuração da sustentabilidade e da incorporação das externalidades nos produtos e processos, o CEBDS desenvolveu – em parceria com WRI (World Resources Institute) e GVCes (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas) – programa de capacitação para utilização da Ecosystem Services Review, ferramenta que avalia o impacto e a dependência da atividade produtiva sobre os recursos naturais (água doce, madeira, clima, alimento, medicamentos e outros). O programa contou com a participação de sete empresas: Anglo American, Danone, Grupo André Maggi, Natura, PepsiCo, Votorantim e Walmart.
O CEBDS também participa da discussão para a criação de diretrizes que possam servir de base para futuras normas para os relatórios corporativos integrados. Esse ano, em parceria com BM&F Bovespa, o Conselho Empresarial promoveu um seminário para o debate sobre um modelo para a elaboração do relatório integrado, que deverá descrever e divulgar como o modelo de negócio de uma organização utiliza o capital financeiro e não-financeiro na produção de valor.
Mudanças climáticas
Em outra frente, o Conselho Empresarial construiu e apresentou, em novembro, na COP-19, em Varsóvia, na Polônia, dois estudos: ‘Adaptação e Vulnerabilidade à Mudança do Clima: o caso do setor elétrico brasileiro’ It is ‘Recomendações para política de energia elétrica do Brasil’. O estudo sobre adaptação evidencia a vulnerabilidade da matriz brasileira frente às mudanças climáticas globais. Já a publicação com recomendações de política pública apresenta soluções que contribuem para a diversificação da matriz elétrica brasileira de forma sustentável. Entre elas, a importância da regulamentação de leilões por fontes e leilões regionais, cogeração e microgeração, licenciamento ambiental, maior eficiência em transmissão e distribuição e no consumo final.
Ainda nesse âmbito das mudanças climáticas, o CEBDS realizou em 2013 a segunda edição do Programa Gestão de Carbono na Cadeia de Valor. Neste ano, o projeto promoveu a capacitação de 101 fornecedores do Banco do Brasil, Braskem, Cemig, Coca-Cola, Ipiranga, Itaú Unibanco, Petrobras, Schneider, Vale e Votorantim para elaboração de inventários de emissão de Gases de Efeito Estufa. Em comparação à primeira edição, o número de fornecedores participantes triplicou. Também foi registrado aumento de 70% no número de empresas que finalizaram seus inventários de emissões. A maior parte dos fornecedores participantes foi de grande porte e da área de manufatura – empresas de fabricação de embalagens, equipamentos para o setor elétrico e peças.
Microfinanças
Outra temática importante tratada no CEBDS em 2013 foram as microfinanças, mercado ainda em ascensão e com enorme potencial de crescimento no Brasil. O CEBDS e as maiores instituições financeiras do país se uniram para estimular ainda mais o acesso às microfinanças no Brasil, visto que os serviços têm o potencial de ser um dos maiores responsáveis pela chamada sustentabilidade financeira. Isto é, dar acesso às classes C, D e E aos sistemas de crédito e seguro, minimizando a desigualdade na distribuição de renda. Nesse contexto o CEBDS lançou, em outubro, em São Paulo, o estudo ‘Microfinanças: Microcrédito e Microsseguros no Brasil’, elaborado em parceria com a Fundação Dom Cabral.
ODS e Conselho Mundial da Água
Este ano, o CEBDS passou a integrar a rede liderada pelo economista Jeffrey Sachs que dá assessoria ao painel de alto nível da ONU responsável pela construção dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Os ODS vão influenciar, a partir de 2015, diretrizes de políticas públicas e investimentos empresariais em todo o mundo de forma similar aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) desde os anos 2000. Além disso, no Ano Internacional da Água, o Conselho Empresarial Brasileiro garantiu assento no Conselho Mundial da Água.
Liderança para a sustentabilidade
Este ano, o CEBDS e a Universidade de Cambridge trouxeram, pela primeira vez para a América Latina, o curso Business & Sustainability Programme (BSP), da University of Cambridge Programme for Sustainability Leadership. Criado em 1994 e voltado para líderes do setor empresarial, o curso tem o objetivo de engajar lideranças e fazê-las entender as implicações estratégicas dos riscos e das oportunidades da sustentabilidade para os negócios e para o valor das empresas. As palestras e discussões foram lideradas por membros do corpo docente da Universidade de Cambridge e palestrantes convidados, entre executivos e líderes de negócios.